Quosque tandem VPV abuteris patientia nostra?
Vasco Pulido Valente na sua última crónica no jornal “Publico” resolveu atacar o escritor e nosso camarada José Saramago em termos inaceitáveis, tendo por base afirmações do escritor que não estão devidamente referenciadas, e portanto não nos permitem avaliar do grau de desonestidade de Vasco Pulido Valente na sua citação.
Acontece que também a diferença de nível cultural entre José Saramago e Vasco Pulido Valente é assinalável, pois o nosso Nobel da Literatura, prémio ganho há 10 anos, é um gigante que foi atacado por um pigmeu. Evidentemente que não estamos a falar só da avaliação que Jerónimo de Sousa fez do premiado na festa promovida recentemente no Hotel Vitória. Estamos a falar do que está escrito, por exemplo, em http://en.wikipedia.org/wiki/José_Saramago (Wikipedia, versão inglesa) e que transcrevemos, traduzindo*: Usando temas tão imaginativos, Saramago sucintamente dirige-se aos assuntos mais sérios com empatia pela condição humana, e pelo isolamento da vida urbana contemporânea. As suas personagens com a sua necessidade de contactarem umas com as outras, formam relações e estreitam-nas com a comunidade; e também com a sua necessidade de individualidade, e encontrarem significado e dignidade fora das estruturas económicas e politicas. Harold Bloom afirmou que considera José Saramago "o novelista vivo mais prendado no mundo de hoje".
Cosmosophia Portucalensis quer deixar bem claro que não tolera, nem tolerará ataques ao Camarada José Saramago, nem ao Partido Comunista Português de que faz parte. Este texto é mais um ataque de anti-comunismo primário, que nos termos em que está redigido só pode gerar repulsa. Mas a questão de fundo que irritou Vasco Pulido Valente não pode passar em claro: tratar-se-ia da exigência colocada por José Saramago para que os responsáveis por este agravamento apocalíptico da crise do Capitalismo fossem incriminados judicialmente, para pagarem substantivamente as malfeitorias que fizeram, e que criaram imediatamente grande miséria entre os trabalhadores, e. g. desemprego, que deverá atingir qualquer coisa como 20 milhões de desempregados num futuro próximo em todo o Mundo. Vasco Pulido Valente entende que isto é uma medida persecutória indigna, para alegrar o povão.
A posição de Vasco Pulido Valente é uma posição de classe, digna daqueles que num passado próximo nos disseram que os deixássemos enriquecer à tripa forra, porque quanto mais ricos eles estivessem mais haveria para distribuir. Foi o que se viu. Substituindo o investimento produtivo pelo investimento especulativo, a economia produtiva pela economia de casino, a das bolsas, sonegando aumentos salariais, mas abrindo as portas ao endividamento de quem não tinha para pagar, propagando a ideia de que o interesse público era idêntico ao das suas contas bancárias, os grandes senhores do capital financeiro envolveram-se em actividades de gestão danosa de recursos que lhe foram confiados, e abriram as portas à crise actual. A posição de Vasco Pulido Valente é no fim de contas a de que eles estouraram o “seu” dinheiro. Na verdade quando isso leva à ameaça de paralisação da economia por falta de meios financeiros, o dinheiro pode ser “deles”, mas não o podem usar de qualquer maneira, porque dos seus abusos sofremos todos. Porém o dinheiro nem sequer é deles, mas sim fruto da acumulação da mais valia que resultou da exploração dos trabalhadores; e quando se dá o desastre, para restabelecer o stato quo, lá se vai buscar o que se retirou aos trabalhadores em impostos, e que estes com grande sentido cívico entregaram, pensando ser destinados ao Estado melhorar as suas condições de vida, na saúde, educação, segurança social, segurança, e outros.
Acresce ainda que todos estes acontecimentos mostraram, ainda que Vasco Pulido Valente não goste, que estes actos foram praticados para prejudicar os trabalhadores, para os tornar ainda mais dependentes dos patrões, para os impossibilitar de pôr em causa o Capitalismo, pois foram acompanhados por um vasto conjunto de decisões que procuram subordinar os trabalhadores de corpo, vida e alma aos patrões, não lhes deixando réstia de autonomia. O Código do Trabalho em Portugal aí está para o mostrar. A qualidade da actividade social passou a ter uma valorização altamente ideológica: o melhor era o que mais subordinava os seus interesses próprios aos interesses exploradores do grande patronato, não o que ao exercer as suas funções era mais cidadão, mas o que cumpria mais acriticamente ordens reforçando o capitalismo.
É por tudo isto que a postura de José Saramago, vilipendiada por Vasco Pulido Valente, é a postura de todos os que exigem saber como tudo isto foi possível, exigindo a punição exemplar dos culpados. Não é só a posição dos comunistas, mas de todas as pessoas que querem um mundo mais fraterno, que não estão para ver o fruto do seu trabalho ir pelo cano de esgoto do capitalismo abaixo, e o querem ver traduzido em mais bem estar material para todos os que se esforçam e trabalham. No fim de contas a de todos aqueles que querem um reforço da cidadania, uma prática de serviço público cidadão. Mas isto só será possível com a equação duma democracia avançada rumo ao Socialismo que a situação actual exige cada vez mais, democracia aonde criaturas como Vasco Pulido Valente não podem ter lugar.
*Texto Inglês: Using such imaginative themes, Saramago succinctly addresses the most serious of subject matters with empathy for the human condition and for the isolation of contemporary urban life. His characters struggle with their need to connect with one another, form relations and bond as a community; and also with their need for individuality, and to find meaning and dignity outside of political and economic structures. Harold Bloom has stated that he considers José Saramago the "most gifted novelist alive in the world today".
Sem comentários:
Enviar um comentário