USA: O Encontro com a História
O passado dia 20 de Janeiro ficará como um virar de página da História do Estados Unidos da América. Ao tomar posse como 44º Presidente dos USA, Barack Obama corporizou um dos acontecimentos mais importantes do processo de construção daquele país desde a sua Fundação: o início do enterro da descriminação racial e do começo da afirmação duma sociedade verdadeiramente multiétnica e realmente integrada.
Os Pais Fundadores, subscritores da Declaração de Independência de Filadélfia em 1776, proclamaram um novo Estado com um governo do povo, pelo povo e para o povo. Era a Revolução Americana. Mas o conceito de povo era algo limitado, pois cobria somente a etnia branca, visto os Pais Fundadores serem proprietários de escravos. Este facto foi razão para um conjunto de equívocos que envenenaram a História dos USA durante quase um século e que conduziria à Guerra Cívil em 1861. Coube a Abraham Lincoln, o imortal Presidente da União, obrigar à libertação da escravatura negra, ganhando a Guerra Civil que em território americano opôs os que pretendiam que todos os seres humanos independentemente da cor da pele deveriam sefr livres, aos que se achavam com direito a ser donos de alguns dos seus semelhantes, os Cavalheiros do Sul. Esta Guerra foi ela própria uma fonte de equívocos, visto que a luta contra o esclavagismo resultava do facto dos estados do Norte serem industriais, enquanto que os do Sul agrícolas; e em consequência o Norte desejar uma economia totalmente capitalista, aonde os trabalhadores fossem senhores de negociar a sua força de trabalho.
Por via disto a Guerra Civil foi naturalmente conduzida com algumas aberrações. No exército da União os negros eram livres mas formavam regimentos segregados. Essa situação manteve-se muito para além do razoável após o fim da Guerra Civil. O assassinato de Lincoln e a falta de vontade política de por fim à descriminação étnica, com a emergência do Ku Klux Klan que transformou os cavalheiros esclavagistas do Sul em vulgares assassinos, fez com que a essa descriminação se mantivesse até aos idos de 60. Nessa altura a descriminação envolvia também as minorias nativas, os vulgares índios, e os emigrantes de origem chinesa e japonesa. Embora a luta dos direito cívicos encabeçada por Martin Luther King tivesse melhorado substancialmente esta situação, na verdade coexistiam e interpenetravam-se nos USA e no mesmo espaço varias nações que se suportavam, mantinham a sua identidade própria, e que tinham até dificuldade em se miscigenar.
Foi este o esforço de Barack Obama, ao afirmar que não existia uma América Branca, uma América negra, uma América índia, uma América de etnia chinesa ou japonesa. O que existe são os Estados Unidos da América, formados por cidadãos e cidadãs com idênticos direitos e deveres, e que por isso mesmo têm de ter o direito às mesmas oportunidades, independentemente de origem social, raça, sexo, religião, ideologia, e orientação sexual. Isto mesmo foi compreendido pelas várias etnias da sociedade americana que em Novembro votaram em Obama: 93% de afro-americanos, 2/3 dos Hispânicos, fortes votações maioritárias nos Americanos de origem asiática, nos americanos nativos, dos Judeus e dos americanos de origem árabe. Há ainda fortes votações nos sindicalizados e nas minorias sexuais.
E assim no passado dia 20 de Janeiro assistiu-se à maior manifestação de massas que teve lugar na cidade desde a marcha sobre Washington de 1963, tendo à frente Martin Luther King. Eram todos aqueles que querem ter esperança em que é possível haver na Casa Branca um inquilino que cumpra a vontade dos trabalhadores.
No entanto este processo, apesar da sua importância, é um monstruoso equívoco. Trata-se de uma grande manifestação de afirmação democrática, sem a necessária contrapartida programática, a de que a ultrapassagem da crise exige uma nova politica, que tem de fazer um corte radical com a actual ordem capitalista. Embora as primeiras decisões sejam favoráveis à ideia de que é possível um novo Governo, é preciso ter em conta que os USA são a base do Imperialismo e que isso não foi posto em causa.
Mas se as esperanças não forem satisfeitas, o mesmo movimento de massas que colocou Obama aonde ele agora está, pode mover-se noutra direcção, e juntar-se à grande família daqueles que já hoje se esforçam por construir uma sociedade mais justa e mais fraterna sem a subordinação ao imperialismo. Nessa altura poderemos ver uma nova relação fraterna com a América Latina, o fim do bloqueio a Cuba, o fim do apoio ao sionismo que pretende dominar os Árabes, enfim a afirmação dum relacionamento democrático à escala internacional. Este desiderato é impossível com a equipa que Obama empossou, pois foi protagonista do muito que a actual crise do Capitalismo mostrou ser atentatória dos direitos dos Povos.
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