A Doença e a Acção Política
No passado dia 4 de Fevereiro, pelas 13:00 horas, encontrando-me sozinho no meu gabinete da Universidade de Glasgow desmaiei. Ainda estou para saber como ao cair ao chão não parti a cabeça. De qualquer forma abri um lenho no sobrolho, e depois de ter sido levado para o hospital aplicaram-me 4 pontos. A Universidade de Glasgow tem um serviço de saúde próprio obrigatório por lei, que me veio prestar assistência e que chamou a ambulância do SNS escocês e que verificou que o desmaio tinha sido provocado por um súbito abaixamento de tensão. Esta realidade deixou os médicos perturbados, por eu ser hipertenso, e não hipotenso, e obrigaram-me a ficar até terça-feira seguinte, procedendo a vários exames, que incluíram um TAC completo à cabeça e tronco, tendo concluído que felizmente não tinha problemas. Fui tratado de forma excelente, nos dois primeiros dias tive de ficar na posição horizontal, e só depois de terem a certeza que a tensão estava normal, me deixaram ficar na posição normal. E a beleza maior é que todo este trabalho NÃO me obrigou ao pagamento de taxas moderadoras, porque aqui se o serviço é nacional, é grátis. O Governo Sócrates ainda tem muito que aprender…
O problema maior era eu ter-me comprometido com a Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos em estar presente e fazer uma comunicação no Simpósio que começava em Paris, Universidade de Marne-la-Valée (na foto), a 11 de Fevereiro, e para o qual já tinha comprado bilhete de avião. Foi uma correria, mas consegui honrar o compromisso. O debate de dois dias e meio que precedeu a Assembleia-Geral sobre “O Trabalho Cientifico e a Condição do Investigador” foi muito interessante, tendo, de todas as apresentações e do debate que se lhes seguia, ressaltado a profunda insatisfação com o modelo neo-liberal de organização e financiamento da investigação cientifica que pontifica nas nossas instituições universitárias/Politécnicas, e a consequente necessidade de luta.
A reunião teve lugar num clima de forte contestação à orientação politica do Governo Sarkosy, que é de opinião que os trabalhadores científicos franceses não produzem o suficiente. Aliás o seu mote é que os investigadores gostam muito de procurar mas pouco de encontrar, o que para além de ser um insulto aos trabalhadores científico, manifesta a profunda ignorância de quem se pretende avaliar a qualidade dos investigadores, sobre a natureza, meios e fins desse mesmo trabalho. No simpósio estivemos a discutir aquilo porque lutavam os nossos colegas franceses em greve. Na verdade pretende-se subordinar tudo à rentabilidade financeira, ideia que acaba de ruir fragorosamente com a crise financeira em curso; pretende-se subordinar a programação total das actividades de investigação às agendas dos grandes conglomerados financeiros, desaparecendo a última réstia de autonomia que ainda resta às Universidades neste campo; procura-se limitar a a autonomia cientifica e pedagógica dos docentes-investigadores para que eles não tenham veleidades de através do seu munus porém em causa a ordem sócio-política vigente do Capitalismo imperialista que está a levar grandes safanões nesta crise e que se esperam uns quantos mais no futuro não muito distante. Os docentes-investigadores responderam com a greve, apoiados pelos estudantes. Quando saí de França a luta continuava ao rubro, como devia.
Perante esta situação no regresso a Glasgow tive de desenvolver trabalho em carteira e daí que este blog ficasse desguarnecido. Mas são muitos os problemas, e vamos continuar a tratá-los nos próximos tempos.
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