Onde está a nossa paciência?
No século XIX, quando a Guerra Civil nos USA (1860-1865) se aproximava do fim, o exército do Norte ocupou definitivamente a cidade de New Orleans na Louisiana, um bastião dos esclavagistas. Ao fazê-lo desfilou vitoriosamente pela cidade. As damas brancas de New Orleans, incomodadas com o fim próximo do esclavagismo que se avizinhava, receberam no meio da rua os soldados nortistas, injuriando-os com as palavras obscenas mais vis conhecidas. No fim do desfile, o comandante das forças do Norte em New Orleans fez publicar um aviso à população aonde se lia algo como isto: Avisam-se as damas de New Orleans que se continuarem a comportar-se perante os nossos soldados como putas, os nossos soldados tratá-las-ão de acordo com esse status social assumido.
Recordei-me deste curioso episódio da Guerra civil, em que a postura do comandante citado foi aplaudida por Marx e Engels, por causa das deambulações europeias do Senhor Sarkozy e em particular a que ele fez à Republica da Irlanda, para dar uns açoites no povo irlandês por ele ter ousado pôr em causa o consensus de todos os políticos burgueses europeus sobre a bondade do Tratado de Lisboa, e a necessidade de o promulgar em toda a Europa dos 27. Foi o caso que, como conta o jornal o Avante! na sua edição de 31/07/2008, o povo irlandês recebeu Sarkosy com cartazes onde se lia: Sarkosy vai-te embora, o povo falou e Onde está a Carla? Claro que tratava-se de Carla Bruni a nova primeira-dama de França, uma interessante artista com vários predicados, que substituiu a anterior primeira-dama eleita com Sarkozy, e que resolvera que aquilo não era vida para ela, pois não lhe sobrava tempo para satisfazer os seus amantes.
Perante esta atitude do povo irlandês, um assessor de Sarkozy, pensando que estava na Place Pigalle em Paris, aonde a prostituição é uma terrível realidade, comentou: – Se os irlandeses querem a Carla têm de votar como deve ser no Tratado de Lisboa. Há tigre! Neste comentário não sabemos o que mais nos impressiona: se o tratamento provocatoriamente infantil dado ao povo irlandês, se a familiaridade ostensiva com que um assessor presidencial fala da primeira-dama em público, se este comparar de Carla Bruni às coelhinhas da Playboy que deixavam aos urros os soldados americanos no Vietnam nos idos da década de 70 do século passado, devido à longa privação de satisfação do apetite sexual próprio da Guerra.
Perante tudo isto não podemos deixar de estar de acordo com o que escreveu a este propósito o camarada Ângelo Alves na mesma edição do Avante!: Daqui expressamos a nossa solidariedade a Carla Bruni, transformada pelo assessor do marido em moeda de troca dum Tratado, e daqui agradecemos ao Presidente Sarkozy a clarificação sobre a forma como “se ouve e compreende” lá pelos lados do Eliseu e de Bruxelas.
Na verdade é necessário aplaudir esta agilidade com que Sarkozy, no exercício das suas altas funções, põe a mulher a render como qualquer reles proxeneta. Enfim já tínhamos tido um Presidente de França, François Mitterrand, que se julgava Sua Majestade o Rei Luís XV; depois tivemos outro, Jacques Chirac, que se julgava Sua Majestade o Rei Luís XIV, este de saudosa memória. Quem se julgará Sarkozy?
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