120000 Professores em Lisboa:
Sim, nós podemos!
Os Professores portugueses estão apostados em provar que as mais sensatas previsões políticas não lhes são aplicáveis, e ainda bem. No passado mês de Março, no dia 8, os professores portugueses desceram à rua para pôr fim à insanidade reinante no Governo, de que são vitimas, consequência de um perigoso ódio a esta classe profissional. Foram 100 000 os manifestantes, do norte ao sul do país, 66% dos profissionais. Parecia que tais números eram inultrapassáveis, e que tudo o que conseguissem fazer a seguir estaria aquém deste número. Pois a plataforma Sindical dos Professores acaba de pôr na rua 120 000, ou seja 85% do total. A quase totalidade não está portanto excluída.
Numa visão perfeitamente irresponsável, o Governo apostara em domesticar os professores, brandindo junto da opinião pública a ideia de que se os níveis de educação e instrução são tão baixos em Portugal, a culpa é dos professores. A partir daí, e para melhor os dividir e controlar, separou-os em duas classes, uma a de professores tout-court, e outra de Professores titular. Esta ultima classe surgiu, qual coelho da cartola, do conceito de qualidade profissional dos professores que o ministério tinha, que a classe contestou de imediato. E o dislate era tal que os próprios beneficiários acharam imprópria a sua criação.
O assunto agravou-se porque este controle passava por uma avaliação, que evidentemente era estranha para professores. Na verdade nenhum professor bom da cabeça dirá a um grupo de alunos: — Meus senhores e minha senhoras qualquer que seja a vossa prestação, eu só poderei dar 20s a uns tantos, 19s a mais alguns e assim por diante. Porém é esta a lógica da avaliação governamental: Excelentes ainda que fossem todos só o podem ser 5%; muito bons mais uns quantos; Bons podem ser todos os restantes. E esta avaliação utiliza metodologias extraordinárias, que obrigam a intermináveis discussões e reuniões de organização: mais de 700 peças de observação, quase 2000 páginas para preencher, 14 páginas de objectivos sendo que a cada um corresponde um plano. Numa decisão nunca antes praticada, um dos pontos da avaliação era os professores avaliadores irem presenciar aulas dos avaliados, e daí tirar conclusões sobre a qualidade das mesmas. Tão ciclópica tarefa só poderá ser conduzida com a ajuda dum super-computador, daqueles que são usados pelas forças armadas dos USA, ou pelos especialistas de metereologia.
Perante a oposição dos professores, o Governo caiu na posição demagógica de dizer que os professores não queriam ser avaliados, denegrindo a sua imagem junto da população. Esta afirmação irresponsável é atentatória da dignidade da classe. Nunca os professores se negaram a ser avaliados, mas desejam estar de acordo com os objectivos da avaliação.
A luta dos professores que ainda está em crescendo, vem chamar uma vez mais para o facto da avaliação dos professores:
· Se debruçar sobre a actividade dos professores, tendo esta o objectivo de serviço público, e como tal são os próprios que estão interessados em que se saiba que actividades desenvolvem e como as desenvolvem;
· Deve ser conduzida interna e externamente ao exercício da profissão, mas tem de ter em conta o estado das comunidades aonde se exerce, os seus níveis culturais, as expectativas que procuram ver satisfeitas; mas têm de ter em conta também os meios disponibilizados para que o professor cumpra a sua missão, incluindo a qualidade do meio escolar;
· Deve ser simples e eficaz na sua metodologia, impedindo que os professores se distraiam excessivamente com tais avaliações;
· Os resultados da avaliação devem ser usados para uma melhoria das funções docentes, para o crescimento intelectual e humano, para a ultrapassagem de estrangulamentos detectados, e nunca para uma punição dos professores, e/ou a consequente desresponsabilização doutros agentes no terreno, caso dos alunos e respectivos progenitores, como pretende o actual Governo.
Os professores são elementos indispensáveis ao Desenvolvimento. No actual momento político, aonde os trabalhadores terão de ser chamados a contribuir como parceiros na reorganização necessária da Economia e da Sociedade, esta política do Governo de Sócrates de domesticação dos agentes de uma profissão, encontra-se ao arrepio do que é desejável. Os professores têm também de estar presentes, e exporem em liberdade os seus pontos de vista. Mas não poderão dialogar se sentirem que na sua frente, estão não interlocutores responsáveis, mas algozes. Por isso a sua luta tem de continuar, porque a sua vitoria é a vitoria da cidadania, e da actuação responsável.
E daí que o Governo deverá mudar de política, pois se não teremos de mudar de Governo.
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