segunda-feira, 8 de junho de 2009

Cartas Escocesa (XIII)

O NAM/JENAM 2009

Desde há uns tempos que suspendi estas Cartas Escocesas, e demais actividades de análise política do Blog. Tal deveu-se primeiro às férias da Páscoa em Portugal, depois à realização do NAM/JENAM 2009 na Universidade de Hertsfordshire, em Hatfield, Inglaterra, e finalmente um denso trabalho de preparação de artigos científicos que não deixam muito espaço livre para outras actividades.

Embora outros temas justifiquem a minha atenção, resolvi hoje escrever sobre o NAM/JENAM 2009. E perguntarão os leitores: mas o que é isso do NAM/JENAM? A resposta é simples: o NAM é o acrónimo de National Astronomy Meeting organizado todos os anos pela Royal Astronomical Society na Grã-Bretanha ou Irlanda. O JENAM é o Joint Europeam National Astronomy Meeting que a European Astronomical Society organiza todos os anos num país da Europa em conjunto com a respectiva Sociedade nacional. Este ano foi a vez da RAS acolher a Europa, e assim de 20-23 Abril deste ano Hatfield foi a capital europeia da Astronomia.

Foi a Semana Europeia da Astronomia e Ciência Espacial, integrada no Ano Europeu da Astronomia, declarado para comemorar o IV Centenário da descoberta dos satélites de Júpiter por Galileu, provando que havia mais de um centro no Universo. Os temas cobriram tanto Astronomia Teórica como de Observação, embora esta tivesse a primazia, com a presença das duas agências Europeias, ESA (European Space Agency) e ESO (European Southern Observatory). A elas se juntou o consórcio que pretende construir o SKA (Square Kilometer Array), um radio-interferómetro de grande potência a instalar na África do Sul, ou Austrália.

A presença das Agências permitiu ter uma visão bastante completa dos avanços que estão a ser feitos através da colocação em órbita de satélites que irão fazer observações que permitiram talvez revolucionar a nossa compreensão das origens e evolução do Universo, e doutras áreas da Astrofísica. Em particular muito se espera dos observatórios orbitais Planck e Herschel entretanto já lançados, e que irão ficar no ponto de Lagrange L2 no eixo Sol-Terra, a 1.5 milhões de quilómetros da Terra, cerca de 235 vezes o raio da Terra.

Outro tema que foi largamente discutido foi o da Cosmologia Física, a ciência que estuda as origens e evolução do Universo. A assunção de que o Universo é formado na sua esmagadora maioria por matéria escura e energia escura, levou à formulação de um conjunto de teorias pós-científicas, e com pouco juízo de realidade. Na verdade foi denunciado pretender-se para a Cosmologia um estatuto que não é aceitável para uma ciência, que é o de ela estar de acordo com a experimentação ou a observação. Parece ser verdadeira a afirmação que estass novas teorias não passam afinal duma nova teologia….

O debate foi vivo e verifica-se que num tempo de grande contenção de financiamentos a Astronomia consegue sobreviver, embora à custa de grandes dificuldades de sobrevivência dos seus recursos humanos. Na verdade a precariedade é enorme entre os astrónomos, a maioria com posições de bolseiros. A isto não é estranho o facto de os financiamento não garantirem a continuidade da actividade, e por esse facto as instituições não poderem assumir compromissos de longo prazo.

Tudo isto indicia a necessidade de encarar estes problemas a uma nova luz. A isto voltaremos no futuro.