quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cartas Escocesas (XIV)

O adeus à Escócia

Está prestes a terminar o período de Licença Sabática aqui na Escócia. Foi um período de onze meses muito rico tanto na esfera científica como na esfera politica.

O Mundo protagonizou uma crise económico-financeira sem paralelo nos tempos modernos que colocou em causa a capacidade do Sistema Capitalista ter capacidade para continuar o seu trajecto de dominação e exploração globais. Porem devido à incapacidade manifesta das massas populares de organizadamente lhe fazerem frente à escala planetária, conseguiu recuperar à custa de injecções financeiras sem paralelo nos tempos passados próximos.

Em termos europeus pretende-se que os eleitores votem numa organização política que lhes nega o elementar direito de votar em referendo sobre as bases gerais da sua estrutura, e que quando os eleitores dizem não, como na Irlanda, são insultados e coagidos a reverem as suas posições.

No plano português as Eleições Europeias mostraram que existe um largo sector que está desiludido; e em consequência por outro lado um número cada vez maior de eleitores vota à Esquerda abrindo as melhores perspectivas para retirar do Governo uma camarilha que se afirma socialista, e vai fazendo todos os fretes ao grande patronato, penalizando os trabalhadores.

Enquanto estes factos foram tendo lugar fui cumprindo aqui as minhas obrigações profissionais, escrevendo artigos científicos, e procurando expandir a teoria da radiação de pulsares, estrelas de neutrões em rotação rápida. Conseguimos fazer três quase concluídos.

O desenvolvimento do trabalho obrigou-me a desguarnecer o blogue. Assim não pude comentar como gostaria a grande manifestação da CDU que tão importante foi para dar confiança ao pessoal e votar à Esquerda. Não falei sobre Soeiro Pereira Gomes, um intelectual operário e um dos comunistas portugueses de referência. E com certeza muitas outras coisas como por exemplo a politica internacional dos USA-Obama, ou a súbita falta de todos esses instrumentos jurídicos que se dizia iriam ser postos no lugar para evitar que outras crises se repitam; ou ainda a falta de vergonha dos deputados britânicos que apresentavam contas sumptuárias, algumas falsas, para que o Parlamento lhes desse dotações extra.

Foi uma excelente visão da evolução do Capitalismo nesta sua fase imperialista bem agressiva, aliás no seguimento do pensamento de Marx que dizia que Londres era uma excelente janela para sabermos o que se passa no mundo. Com as novas tecnologias, qualquer grande cidade do Reino Unido é hoje uma excelente janela sobre o mundo.

Termino estas crónicas com uma referência à Escócia. Com a Devolução a sociedade Escocesa começou um processo de autodeterminação, que se manifesta entre outras coisas, num estudo aprofundado da sua História. Existe uma forte corrente que pretende ir mais longe e quer a independência. Com o conhecimento que temos destas duas grande nações, a Escócia e a Inglaterra, parece-nos que para o bem e para o mal deverão permanecer unidas, pois a união é uma das maiores forças que ambas têm para se afirmar no Mundo. É nossa convicção por outro lado que a presença da Escócia no Reino Unido, é um factor de coesão da Inglaterra. Parece-nos isso sim que o Reino Unido deveria ter uma Constituição Federal reconhecendo que Inglaterra, Escócia e País de Gales são de facto três nações, e criar os instrumentos de articulação política entre si, que as projectasse em conjunto no mundo, exprimindo a sua diversidade.

E até Portugal.



segunda-feira, 8 de junho de 2009

Cartas Escocesa (XIII)

O NAM/JENAM 2009

Desde há uns tempos que suspendi estas Cartas Escocesas, e demais actividades de análise política do Blog. Tal deveu-se primeiro às férias da Páscoa em Portugal, depois à realização do NAM/JENAM 2009 na Universidade de Hertsfordshire, em Hatfield, Inglaterra, e finalmente um denso trabalho de preparação de artigos científicos que não deixam muito espaço livre para outras actividades.

Embora outros temas justifiquem a minha atenção, resolvi hoje escrever sobre o NAM/JENAM 2009. E perguntarão os leitores: mas o que é isso do NAM/JENAM? A resposta é simples: o NAM é o acrónimo de National Astronomy Meeting organizado todos os anos pela Royal Astronomical Society na Grã-Bretanha ou Irlanda. O JENAM é o Joint Europeam National Astronomy Meeting que a European Astronomical Society organiza todos os anos num país da Europa em conjunto com a respectiva Sociedade nacional. Este ano foi a vez da RAS acolher a Europa, e assim de 20-23 Abril deste ano Hatfield foi a capital europeia da Astronomia.

Foi a Semana Europeia da Astronomia e Ciência Espacial, integrada no Ano Europeu da Astronomia, declarado para comemorar o IV Centenário da descoberta dos satélites de Júpiter por Galileu, provando que havia mais de um centro no Universo. Os temas cobriram tanto Astronomia Teórica como de Observação, embora esta tivesse a primazia, com a presença das duas agências Europeias, ESA (European Space Agency) e ESO (European Southern Observatory). A elas se juntou o consórcio que pretende construir o SKA (Square Kilometer Array), um radio-interferómetro de grande potência a instalar na África do Sul, ou Austrália.

A presença das Agências permitiu ter uma visão bastante completa dos avanços que estão a ser feitos através da colocação em órbita de satélites que irão fazer observações que permitiram talvez revolucionar a nossa compreensão das origens e evolução do Universo, e doutras áreas da Astrofísica. Em particular muito se espera dos observatórios orbitais Planck e Herschel entretanto já lançados, e que irão ficar no ponto de Lagrange L2 no eixo Sol-Terra, a 1.5 milhões de quilómetros da Terra, cerca de 235 vezes o raio da Terra.

Outro tema que foi largamente discutido foi o da Cosmologia Física, a ciência que estuda as origens e evolução do Universo. A assunção de que o Universo é formado na sua esmagadora maioria por matéria escura e energia escura, levou à formulação de um conjunto de teorias pós-científicas, e com pouco juízo de realidade. Na verdade foi denunciado pretender-se para a Cosmologia um estatuto que não é aceitável para uma ciência, que é o de ela estar de acordo com a experimentação ou a observação. Parece ser verdadeira a afirmação que estass novas teorias não passam afinal duma nova teologia….

O debate foi vivo e verifica-se que num tempo de grande contenção de financiamentos a Astronomia consegue sobreviver, embora à custa de grandes dificuldades de sobrevivência dos seus recursos humanos. Na verdade a precariedade é enorme entre os astrónomos, a maioria com posições de bolseiros. A isto não é estranho o facto de os financiamento não garantirem a continuidade da actividade, e por esse facto as instituições não poderem assumir compromissos de longo prazo.

Tudo isto indicia a necessidade de encarar estes problemas a uma nova luz. A isto voltaremos no futuro.

domingo, 24 de maio de 2009

O Adeus às Armas (VI)

O Senhor Cinema deixou-nos…

Estávamos no final da década de 60 do século passado e a Associação de Estudantes do Instituo Superior Técnico resolveu fazer um debate sobre as perspectivas que se abriam para a Universidade Portuguesa no contexto das ilusões da “abertura” marcelista. Foi constituído um painel, e nele se incluíam João Benard da Costa e Sofia de Melo Breyner, a grande poetisa portuguesa do Século XX, e outros anti-fascistas de que infelizmente já não me lembro o nome.

Recordei este facto quando soube da morte de João Benard da Costa. Tive sempre a sua imagem de um grande intelectual católico que ajudou a combater o fascismo, mantendo uma impoluta verticalidade democrática. Mais tarde em democracia soube da grande amizade que o unia a Manoel de Oliveira, e que o levou a entrar em vários dos filmes do nosso imortal realizador. E foi esse amor pelo cinema que o levou primeiro aos ciclos de cinema da Fundação Calouste Gulbenkian, e mais tarde a assumir a direcção da Cinemateca Nacional, e a projectá-la na Cultura Portuguesa com o lugar a que tinha direito.

Nascido em Lisboa a 7 de Fevereiro de 1975, João Benard da Costa viveu uma parte da sua infância dominada pelo espectro da II Guerra Mundial, no paraíso idílico da Arrábida. Formou-se em Histórico-Filosóficas, e em 1963 funda com António Alçada Baptista o Tempo e o Modo com Alçada como director, ele próprio como chefe de redacção e textos de Jorge Sampaio e Mário Soares, abrindo assim espaço aos que combateram na Crise Académica de 1962.

Em 1965 assina com mais 101 católicos portugueses um manifesto em que se contesta a guerra colonial. Em Maio de 1968 sai da Igreja Católica, e em 1969 integra as listas da CDE. Por essa altura encontra-se com o camarada Álvaro Cunhal na Borgonha, num encontro naturalmente clandestino. Foi a sua fase de activista político activo, em que uma das suas derrotas foi a perda do controle do Tempo e o Modo, que passou para as mãos do MRPP, no início da década de 70.

No 25 de Abril de 1974, integrou o Movimento da Esquerda Socialista (MÊS), mas depressa deixou actividade partidária. Perdeu-se o político, mas ficou o intelectual.

O cinema surge na sua vida quando em 1969 vai para a Fundação Gulbenkian organizar a Secção de Cinema no Serviço de Belas Artes, com ciclos que hão-de marcar milhares de telespectadores. O primeiro em 1973, começa com Roma, Cidade Aberta, o imortal filme de Rosselini, com a presença do próprio e de Henri Langlois da Cinemateca Francesa. Quando os espectadores começaram a gritar: Abaixo o fascismo! Liberdade! Liberdade! Langlois sentiu que o 25 de Abril estava próximo…

Nesse ano e até 1980 deu aulas de Cinema no Conservatório e em 1980 a convite de Vasco Pulido Valente entrou para a Cinemateca como sub-director de Luis de Pina, tendo-lhe sucedido como Director em 1991. Na Cinemateca desenvolveu um trabalho deslumbrante de estudo e preservação em do cinema, e tornando a Cinemateca Portuguesa parceira das suas mais importantes congéneres mundiais.

A morte de João Benard da Costa, um grande democrata, constitui uma assinalável perda, mas fica o seu trabalho de preservação da memória do cinema, tarefa a continuar sem desfalecimento. Assim sejamos dignos dele.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O Adeus às Armas (V)

Vasco Granja: A Afirmação da Cultura Visual - as 8ª e 9ª Artes

Estamos em 1966, e eu já entrara no Instituto Superior Técnico. Para trás ficara uma vida não muito alegre, mas que tinha sido muito mais interessante porque eu lia muitas “Histórias aos Quadradinhos”. O meu pai não gostava e tinha-mas proibido. Mas no inicio eu tinha um vizinho que mas emprestava. Para que o meu pai não as visse, escondia-as nos fundos dum sofá-cama com a cumplicidade da minha mãe. E foi assim que conheci o Buck Jones, o Wyatt Earp, David Crockett, Kit Carson, Mandrake, Super-Homem, Batman, Fantasma, o Major Alvega, e tantos outros. Mais tarde já no Liceu de Gil Vicente em Lisboa passava pelo jardim da Graça aonde, na biblioteca municipal que lá havia, lia o “Cavaleiro Andante”, o Mundo de Aventuras e tudo o que aparecia.

E foi assim que um dia dou comigo a ler o jornal Republica, e encontro um artigo do Vasco Granja a falar-nos da Banda Desenhada com grande profundidade. Ele falava das Histórias aos Quadradinhos da minha adolescência. E estava certo naquilo que dizia: se o Desenho Animado já era então reconhecido como a 8ª Arte, a Banda desenhada era a 9ª Arte, e era necessário promovê-la. Ele afirmava que elas eram a expressão da nossa modernidade. A isto se opôs o suplemento Diário de Lisboa Juvenil, dirigido pelo nosso camarada Mário Castrim, aonde se defendia que texto e imagem juntas degradavam o texto e afastava os leitores das grandes obras da literatura.

Ora eu que já tinha lido uma séria de umas e outras, não estava de acordo. A discussão azedou. E algures no final de 1966, princípios de 1967, escrevi no Republica a carta aberta Ouça Senhor Mário Castrim, Companheiro-Mor do Juvenil aonde critiquei acidamente os colaboradores do Juvenil. A polémica não durou muito mais tempo.

Vasco Granja foi um dos homens que subrepticiamente fez uma Revolução Cultural, ao afirmar a importância da imagem na formação integral do indivíduo. A sua contribuição para a divulgação do Desenho Animado e da Banda desenhada, como 8ª e 9ª Artes, foi fundamental para que os portugueses tivessem conhecimento destas duas expressões artísticas, e fossem capazes de ajuizar da sua excelente qualidade. Ele é responsável pelo acesso de todos os portugueses através da Televisão à divulgação da pluralidade das suas escolas. Os mais importantes criadores foram divulgados e.g. Norman McLaren, canadiano.

Vasco Granja era um camarada. Deixou-nos com 83 anos. Já sentimos a sua falta. Mas a sua obra perdurará nos nossos corações, e é expressão da pluralidade que vale a pena construir, e que em sua homenagem e de outros como ele, que perduram e perdurarão na nossa memória, necessariamente construiremos.

terça-feira, 31 de março de 2009

Reflexões Estratégicas Globais (V)

Grã-Bretanha: o Acordar das Massas

No passado Sábado dia 28 de Março, e em preparação para a reunião do G20 em Londres, os povos britânicos fizeram uma das maiores manifestações de que há memoria na Grã-Bretanha. A marcha sob o lema Put the people first (Ponham as Pessoas Primeiro) reuniu 35 000 pessoas que marcharam uma distância de cerca de 10 km, do Embankment a Hyde Park, um lugar famoso por ser o símbolo mundial do discurso livre, enquadrados por um aparato policial sem precedentes. Foi o culminar de um importante processo de mobilização que levou semanas, aonde se chamou a atenção dos trabalhadores para a importância de ocuparem este espaço de protesto, dada a progressiva degradação das suas condições de vida e emprego. Esta manifestação será repetida na Escócia, em Edimburgo, no próximo dia 1 de Abril. Espera-se que a Milha Real que vai do Forte de Edimburgoao castelo de Holyrood, aonde viveu Maria Stuart, esteja tão pejada de gente, como Londres esteve neste fim de semana.

A manifestação foi convocada por uma vasta coligação de 100 sindicatos, grupos eclesiais e organizações de caridade, que incluíam ActionAid, Save the Children, Friends of the Earth e Oxfam. Esta manifestação, para além do seu título acima, tinha como tema empregos, justiça e clima, e os seus destinatários eram os participantes do G20, que começam esta semana a sua reunião aqui em Londres, e da qual muito se esperava em termos de soluçoes para a resolução da crise. Entre os sindicatos contava-se a poderosa UNITE que é uma federação de organizações sindicais, cobrindo várias profissões. 

A manifestação foi ainda integrada por bandas filarmónicas, tambores, muitas bandeiras de vário tipo muito coloridas. Ao chegarem a Hyde Park, os manifestantes ouviram discursos do comediante Mark Thomas e do activista eclógico Tony Juniper, que tiveram ainda momentos musicais do conjunto The Cooks, o que criou no seu conjunto um ambiente de festa.

Os organizadores esperavam 10 000 participantes, pelo que a manifestação se pode considerar um êxito assinalável. É bom notar que no Reino Unido grandes manifestações só quando as pessoas estão efictiva e profundamente revoltadas, pelo que esta manifestação é um sinal claro que o clima social está finalmente a aquecer.

Há todas as razoes para que assim seja. Devido ao colapso parcial do Capitalismo, o desemprego já atinge na Grã-Bretanha 2 milhões de desempregados, e espera-se que até ao fim do ano atinja 3 milhões. As condições de vida deterioram-se significativamente todos os dias, e a deflação uma realidade que já começou a assentar arrais. Por outro lado o Governo britânico persiste na sua saga de salvar a superstrutura da Economia, e de repor o stato quo ante, esquecendo a miséria das populações aonde já há sectores não insignificantes dos estratos intermédios a viverem da caridade publica e em albergues. Na verdade perderam os seus empregos, a que se seguiu a perda da sua casa, o que os tornou sem-abrigo; e sem endereço que os individualizem e possam declarar, dificilmente arranjarão emprego que lhes permita recuperar as suas vidas. Muitos não têm meios para alimentar os filhos, e isto torna a situação ainda mais dramática. Uma onda de miséria abate-se sem remissão sobre o Mundo Desenvolvido.

Nada se espera da reunião do G20. Aliás esta reunião não deverá ter quaisquer consequências, pois as suas decisões para ser implementadas passam por outros fora, e.g. a União Europeia. Mas independentemente deste facto os participantes estão divididos em 3 (!!!) grupos: um formado pelos países ricos que querem antes de mais a reforma do Sistema para reproduzir o stato quo ante, o que parece ser uma impossibilidade, pois é necessário haver poder de compra e procura de bens para que a produção volte a ser o que era, o que inviabiliza retomar a exploração do trabalho tal como ele se processava; outro formado pelos que querem gerar um plano de obras públicas que permita a curto prazo diminuir o desemprego e a partir daí retomar o stato quo ante; e o terceiro as potencias emergentes, que declaram não ter nada a ver com as malfeitorias dos outros dois e que nos colocou nesta negra situação.

Na preparação desta curiosa reunião as forças capitalistas multinacionais, têm o despudor de dizer aos países emergentes como eles devem gerir a sua casa. É assim que se explica a posição de Lula que na visita de Gordon Brown ao Brasil resolveu chamar os bois pelos nomes, deixando o primeiro-ministro inglês com um sorriso muito amarelo.

O segundo colapso do Sistema que se avizinha será ainda mais dramático do que o primeiro. Os barões do Sistema estão sem soluções. A tentativa anterior à crise de mudar o sistema produtivo usando receitas neo-liberais, aonde o dinheiro era gerado pela economia de casino, levou aos grandes escândalos financeiros de Madoff e companhia e a uma contracção da esfera produtiva em face da esfera financeira. O colapso financeiro levou ao colapso económico parcial, e daqui ao colapso total vai uma distância que se medirá em meses, e deverá eclodir ainda este ano. Só uma acção deliberada dos trabalhadores, levando às suas últimas consequências as afirmações da Marcha de Londres do passado Sábado (A Revolução começa aqui, disseram os trabalhadores) permitirá proceder à construção da nova sociedade que se exige, com os trabalhadores no comando, e com as soluções necessárias à construção do seu bem estar social.

domingo, 29 de março de 2009

Acontecimentos Políticos Hilariantes (VI)

The Guardian Versus Barclays Bank: a Vitória da Democracia

Cosmosophia Portucalensis, através das Cartas Escocesas (XII), apresentou aqui a decisão dum juiz do Reino Unido em impedir que o Jornal The Guardian apresentasse dados comprometedores do esforço do Banco Barclays em participar na fuga aos impostos em larga escala.

Na passada Quinta-Feira dia 26 de Março, Lord Oakeshott do Partido Liberal-Democrata subiu à tribuna da Câmara dos Lordes para denunciar o facto. Afirmou ele que documentos entregues aos Liberais-Democratas, que parecem mostrar com detalhe fuga aos impostos em larga escala pelo Barclays, foram suspensos preventivamente a semana passada. Ele sentiu-se obrigado a falar ao Parlamento sobre a máquina de fuga aos impostos do Barclays com a sua exploração agressiva de paraísos fiscais, e dizer ao público aonde ele pode vê-los e julgá-los por si próprios. E acrescentou que era um dia triste para a democracia se um juiz decidindo em segredo pode impedir este debate público essencial.

Os Documentos entregues aos Liberais-Democratas parecem mostrar com detalhe fuga sistemática aos impostos em larga escala pelo Barclays, afirmou. Tornaram-se notícia de primeira página em consequência, e estes documentos estão disponíveis na Internet em portais como o Twitter, Wikileaks.org, docstoc.com e gabbr.com.

Esta questão torna-se hilariante, porque depois dum juiz ter dado uma ordem de suspensão ao Guardian de tocar neste assunto e de mostrar os documentos, bastou uma atitude de grande dignidade dum Lorde, que usou a sua imunidade ao abrigo da Lei Bill of Rights de 1689, para o jornal poder voltar a falar dele, não directamente, mas a partir da notícia dum acto dum Lorde. Na verdade o juiz agora não pode voltar a poder escamotear os factos e a favorecer o privado em face do público.

Trata-se obviamente duma derrota dos que pretendem sonegar informação vital à vida democrática, e uma vitória dos que querem o primado do serviço público, e da própria democracia. A instituição Parlamento saiu dignificada. Num caso destes uma boa gargalhada em ambiente de festa não está mal vista.

sábado, 28 de março de 2009

O Adeus às Armas (IV)

Camarada Raquel: a Força dos Simples

Conheci a camarada Raquel quando comecei a frequentar o Centro do PCP Pedro Soares em Campo de Ourique em 2002. Era uma pessoa simples, uma verdadeira mulher do Povo. Embora com problemas de saúde estava sempre disponível para participar em todas as acções do Partido, fossem elas de protesto, de esclarecimento ou de trabalho militante. Quando havia quermesses no Vitória, era vê-la ajudando na venda, cheia de alegria. Nunca faltava aos almoços de confraternização que se fazem de vez em quando no centro Pedro Soares.

Quando eu estava em Lisboa, e eu e a minha companheira íamos para as acções do Partido de carro, pedia-me que a levasse connosco. E assim nos habituámos à Raquel: não era uma simples camarada, ou uma amiga chegada, era de facto uma pessoa de família. Disse um amigo nosso, também camarada, e também já com um estatuto de irmão, que mais importante que a família de sangue, era a família que nós escolhemos. E era essa a situação da Raquel connosco.

Com cerca de 80 anos a camarada Raquel deixou-nos. É com muitos milhares de camaradas abnegados e simples como a Raquel que continuamos todos os dias a construir o Partido Comunista Português, e a responder às urgentes necessidades de luta do Povo da nossa terra. Era sua vontade que sem desfalecimento continuássemos a lutar pelo fim da politica de direita, e que déssemos passos ousados no caminho do Socialismo. Mas esta é também afinal a vontade de todos os comunistas, e o seu esforço quotidiano. O exemplo da camarada Raquel está nos nossos corações, pois já sentimos todos a sua falta. Tentar cumprir a sua vontade é e será sempre uma prioridade da nossa actividade, tal como ela sempre o desejou.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Reflexões Estratégicas Domésticas (VI)

PCP: A decisão necessária

A histórica decisão do Partido Comunista Português. de convocar para o dia 23 de Maio uma grande manifestação nacional em Lisboa, para que os cidadãos e as cidadãs possam manifestar a sua indignação pela gravosa situação politica que nos assolou, constitui o maior acontecimento politico dos últimos tempos.

A situação social do país não para de se agravar. O desemprego aumenta catastroficamente, penalizando todas as camadas assalariadas. A Produção diminui, embora ela já fosse insuficiente por via da destruição do tecido produtivo agravado pela adesão à Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia. As pensões estão ameaçadas porque se acreditou que a economia de casino não deixaria de as aumentar, e foram das primeiras a sentir o colapso do sistema. Há já estratos sociais a solicitarem ajuda, que ainda há bem pouco tempo nem sonhavam que isso lhes viesse a acontecer. A ladainha de que o desenvolvimento do capitalismo traria beneficio para todos, traduz-se no maior logro de sempre com o colapso do Sistema a penalizar os mais pobres, mas a encher os bolsos dos criminosos que a provocaram. Em vez de se procurar salvar a situação daqueles que ontem trabalhavam, e hoje estão no desemprego, o Governo Português tratou de proteger os bancos responsáveis pela desgraça.

O povo português tem todas as razoes para estar descontente. Impõe-se criar as melhores condições para que manifeste o seu repudio pela politica de Direita seguida, pois não há que enganar, é verdade que a crise parece importada, mas na verdade os erros cometidos pelo Governo dito Socialista levaram a sociedade portuguesa a uma situação de crise agravada pela crise internacional.

É mister que o povo se levante, dê largas à sua indignação e possa manifestar colectivamente a sua vontade de uma nova politica. Compete às forças políticas que se afirmam como cumpridoras do interesse popular, de criar os espaços para que tal possa a acontecer, e preparem alternativas credíveis à política de Direita. É necessário que se criem os acordos possíveis de todos os que têm uma prática política de repudio da política de Direita, incluindo o PCP, para que possam criar-se as condiçoes para afastar da área do Poder todos os que persistem em ser servidores bem comportados do grande capital. Sao precisa novas políticas que naturalmente têm de ser protagonizadas por novos actores. 

Foi trabalhar neste sentido que o PCP fez agora, coroando um esforço de resistência e esclarecimento da verdadeira face da política de Direita. O povo tem direito à indignação, e a mostrá-lo enquanto colectivo de cidadãos e cidadãs. Só uma partido politico que de forma consistente tem vindo a trabalhar para a construção duma alternativa democrática à politica de direita, podia ter convocado as massas populares, na certeza de que o exercício do voto permitirá materializar a alternativa necessária, e que está ao nosso alcance. Qual fénix, um novo Portugal pode renascer das próprias cinzas da desgraça que sobre ele se abateu.

terça-feira, 24 de março de 2009

Cartas Escocesas (XII)

A Liberdade de Expressão no Reino Unido

O jornalista José Eduardo Moniz afirmou recentemente: — Há quem considere que, em democracia é possível condicionar o livre exercício do jornalismo. Pois parece que aqui no Reino Unido, o berço da democracia, há quem pense que tal não só é possível, como pratique os actos necessários a fazê-lo impunemente.

Neste tempo de crise, o jornal The Guardian, tem-se lançado numa cruzada para descobrir todas as grandes malfeitorias que foram sendo praticadas pelo capitalismo moribundo, quando ainda estava extremamente viçoso. E tem descoberto coisas assinaláveis: as zonas francas por onde o dinheiro circula para não se pagarem impostos, e depois quando falidos as verbas que exigem para ser salvos; os esquemas que permitem que as grandes multinacionais deixem de pagar impostos aos países em vias de desenvolvimento, e por isso mesmo os condenem à pobreza perpétua; os bónus que as multinacionais, e em particular os bancos pagam aos seus administradores, particularmente quando vão à falência.

Tudo isto tem sido corrente nos últimos números do The Guardian. Dois bancos têm sido singularizados, o Royal Bank of Scotland, e o Barclays Bank. A tarefa do jornal foi particularmente simplificada em relação a este último, porque um funcionário do Barclays ao ser despedido trouxe consigo uma vasta quantidade de informação, que mostrava que este banco era uma maquina de evasão fiscal através de varias companhias através do mundo, e.g. zonas francas, tendo conseguido não pagar vários milhares de milhões de Libras, e entregou-a ao The Guardian.

O jornal que é de esquerda, embora muitas vezes seja sensível à política de direita, tratou de denunciar tudo, colocando os documentos no seu portal da internet, http://www.guardian.co.uk/. E então sucedeu o inacreditável, porque o capitalismo, depois de ir ao tapete, começou a berrar que tudo ir ser transparente. Por via disso meteu alguns trastes na cadeia, como o banqueiro Madoff que, nos USA, construiu uma pirâmide financeira, do género Dona Branca, e assim derreteu qualquer coisa como 36 milhares de milhões de dólares de vários investidores.

Pois aqui no Reino Unido o o Barclays conseguiu que na 3ª Feira dia 16 de Março, um juiz às 2 horas da manhã acordasse o advogado do jornal comunicando-lhe que o Barclays tinha submetido uma providencia cautelar para que os documentos gravosos deixassem de estar em circulação, pois segundo o banco tal prejudicava-o, e para lhe fazer umas quantas perguntas antes de tomar a decisão. A mesma foi impedir o jornal de continuar a informar sobre esta questão, retirando todos os documentos da internet, e submeter a questão ao tribunal, que a veio a confirmar na 5ª Feira, dia 19 de Março. Entretanto outro desconhecido funcionário tornou pública mais documentação.

Como se vê o jornalismo de investigação está sob ataque e não há interesse publico que lhe valha se estiverem em jogo os altos interesses privados, ao contrário do que afirma José Eduardo Moniz. Não interessa se estas estruturas prejudicam o Estado em biliões de libras, e por esse facto todos nós estejamos a ser prejudicados. O que é preciso é permitir que eles continuem a funcionar como se nada se passasse, e a serem salvos à nossa custa dos impostos, não dos deles, mas os nossos.

Estes edificantes acontecimentos mais vêm colocar a necessidade de se correr com estes trastes, pois podem ser muito tecnicamente capazes, mas os seus valores éticos impedem que eles continuem à frente do que quer que seja, e exige-se que quanto antes sejam lançados no caixote do lixo da História. Estas são medidas necessárias a uma democracia avançada neste Século XXI.

sábado, 21 de março de 2009

Acontecimentos Políticos Hilariantes (V)

Governo Sócrates: A demagogia tem limites!!!

A decisão do Governo Português de permitir que os detentores de crédito imobiliário, caso tenham entre os seus dependentes desempregados, de deixarem de pagar durante ano e meio metade das suas prestações, constitui uma decisão altamente hilariante, não fora as suas terríveis consequências.

Na verdade a situação económica internacional aponta para um aprofundamento da crise. É claro como a água hoje que as medidas no plano internacional e dentro de cada país não conseguem estancar a deriva para fundo do abismo, que parece inatingível. Se por enquanto ainda se vê actividade económica, tal deve-se a que muitas pessoas ainda trabalham, a maioria, e gastam o pouco que têm, pois não sabem o que os espera no futuro, e se poderão gozar a vida ou não.

A aceleração do processo, para a desgraça total, parece estar escrito no futuro, e o colapso generalizado deve dar-se na próxima rentrée. Como é evidente toda esta perspectiva consumar-se-á porque as altas esferas do capitalismo se recusam a fazer aquilo que já todos perceberam tem de ser feito, porque tais medidas condirão a prazo à descaracterização completa do Sistema: este teria de equacionar que já não era bem a mesma coisa, e transformar-se num sistema de democracia avançada a caminho do Socialismo.

Neste quadro os altos dirigentes fazem múltiplas reuniões, e a vários níveis em que manifestamente não se entendem. E as medidas a cumprir são simples: é preciso pôr dinheiro nos bolsos dos trabalhadores, em vez da estrutura bancária, estancar o desemprego. Mas esta questão tão simples tem implicações estruturais profundas, porque transfere a responsabilidade de salvação da crise para os capitalistas.

Como não se fazem as coisas certas, é de esperar um agravamento das condições de vida dos trabalhadores, uma consequente quebra na produção de bens, o consequente desemprego e a fome generalizada. Pensar que dentro de ano e meio os trabalhadores estarão em melhor situação, e actuar em consequência, é uma brincadeira de mau gosto e só pode provocar esgares. Aqueles que estão hoje desempregados e só na Grã-Bretanha já são 2 milhões, no futuro próximo vão sentir-se ainda mais acompanhados, pois no fim do ano este número vai subir para 3 milhões.

A decisão do Governo Sócrates é altamente lesiva dos interesses dos trabalhadores e muito particular dos que têm de pagar prestações de crédito imobiliário. Como alguém já demonstrou, daqui a ano e meio estas pessoas têm de pagar o que não pagaram, mais os juros do mesmo capital. Se eles já hoje não podem pagar, em condições de vida agravadas como vão então fazê-lo? Em vez de tentar salvar os bancos pagando a estes, por cima dos contribuintes, o valor dos activos tóxicos, aquilo que os devedores não estão em condições de pagar, mas mantendo os devedores essa sua qualidade, os governos desta civilização ocidental mas bem pouco cristã, deveria fazer duas coisas:

  • Pagar as prestações em vez dos devedores que não estivessem em condições de o fazer, ficando estes cada vez mais livres da dívida;
  • Fazer uma reavaliação de todas as dividas, pela sobrevalorização do empréstimos, e o diferencial entre o que as casas valem hoje e a divida que os devedores contrataram, ser imediatamente pago pelos governos, deixando os devedores com mais ar para respirar.

Claro que isto é um outro sistema social. Mas para o atingir é preciso a mobilização dos trabalhadores. A manifestação da CGTP na passada semana com mais mas muito mais de 200 000 manifestantes tem de ser o caminho da mobilização para que estes autores de graças de mau gosto não estejam em condições de as produzir.

quinta-feira, 19 de março de 2009

"Fait Divers" Políticos (VII)

Rania al Abdullah: A visita duma Rainha diferente

Na passada segunda-feira os portugueses e as portuguesas tiveram a visita oficial dos Reis da Jordânia ao nosso país. Foi uma visita com algum alarido, embora isso não tivesse sido provocado pelo Rei mas sim pela Rainha, Rania al Abdullah referenciada já neste blog como a mulher mais bela do mundo. Foi de tal monta, que até parecia que a visita era de Sua Majestade Rania, e que esta vinha acompanhada pelo marido. O carácter pós-moderno deste casamento foi particularmente gritante, e isto deve ser assinalado como sendo uma manifestação do carácter avançado de ambas as Suas Magestades, e em particular do Rei Abdullah II, que está sob fortissima pressão para se ver livre da Rainha Rania.

A visita teve as habituais cerimónias protocolares, que incluíram as habituais conversas entre políticos de topo. Mas houve também a cerimónia da entrega do prémio Norte-Sul do Conselho da Europa à Rainha pelo excelente trabalho realizado na Jordânia pela promoção das Mulheres árabes, e pelo reforço do dialogo cultural entre o Ocidente e o Mundo Árabe. Este prémio foi igualmente atribuído ao Presidente Jorge Sampaio, também presente na cerimónia.

No seu discurso de aceitação a Rainha mostrou a sua proverbial elegância, e superiores sabedoria e capacidade politica, ao evocar os Descobrimentos Portugueses e a capacidade da cultura portuguesa no seu relacionamento com o mundo ter sido uma cultura de integração. Segundo Sua Majestade este facto torna ainda mais exigente o papel de Portugal do mundo hoje, aonde é necessário estabelecer novas pontes entre culturas que alguns pretendem disjuntas e pouco amigas. Foi tão brilhante que Jorge Sampaio estava perfeitamente comovido. O Parlamento ficou babado, e contemplou embevecido esta deusa descida à Terra, um acontecimento não-trivial pois não acontece todos os dias.

Rania AlAbdullah deu-se ainda ao incómodo, que para ela é uma trivialidade, de ir visitar a Escola Miguel Torga para se inteirar do que é a nossa actividade nas áreas desfavorecidas. Deve ter ficado um pouco decepcionada, mas não podia esperar mais dum Governo que deixou no seu mandato aumentar o fosso entre os 5% mais desfavorecidos e os seus homólogos 5% mais favorecidos. Deve-lhe ter parecido ser mais fácil ir para o deserto fazer discursos para os beduínos a promover os direitos humanos, qual S. João Baptista que berrava para os que (não) o queriam ouvir: Ego vox clamantis in deserto: dirigite viam Domini!!!

Seria da máxima conveniência que o exemplo de Sua Majestade Rania frutificasse em Portugal e que estivéssemos mais atentos à resolução da exclusão. Neste momento isso deve ser um bocado difícil com o Governo a querer salvar os Bancos a todo o custo, em vez das pessoas. Mas um dia, que queremos próximo, lá chegaremos.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Socialismo em Desenvolvimento (V)

El Salvador: Mais um passo na senda do Progresso

No passado domingo em El Salvador a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional deu um importante passo para atingir os seus objectivos anti-imperialistas com a eleição do jornalista Maurício Funes par Presidente do País.

Farabundo Marti foi dirigente do Partido Comunista de El Salvador na década de 30. A FMLN constitui uma importante organização, sucessora de várias tentativas para formar uma organização revolucionária, para desenvolver a luta armada para a libertação do país, e que na década de 1980 conseguiu juntar cinco organizações anti-imperialistas com esse objectivo, que já actuavam no terreno, entre as quais o Partido Comunista de El Salvador. Tal permitiu o reforço da luta armada que terminou em 1992, com a assinatura de acordos que estabeleceram a democracia naquele país. Após a assinatura desses acordos, e a implementação do cessar-fogo, a FMLN constituiu-se em partido político, tendo após alguma discussão, fracionamento e reorganização passado a constiuir um partido unificado, tendo as organizações que lhe deram origem desaparecido enquanto tais

Esta eleição marca um reforço das forças patrióticas latino-americanas que progressivamente estão  a alterar por via democrática a correlação de poder na América Latina, movimento naturalmente encabeçado por Cuba socialista, e Venezuela Bolivariana.

Maurício Funes que venceu por 51.27% contra 48.73% em 60% de votos expressos, é um jornalista que se decidiu empenhar na acção politica, e dar o rosto pela causa anti-imperialista em El Savador. a sua eleiçao é consequência de o povo salvadorenho estar farto de desemprego, corrupçao e violência organizada, naturalmente detribuidos pela Direita lacaia do Imperialismo. Esperamos que tenha grande sucesso na sua acção, e que estes acontecimentos sirvam de exemplo para que outros povos sem receio se envolvam no fortalecimento da sua independência, enquanto país e de toda a América Latina.

domingo, 15 de março de 2009

Aniversários Marcantes (IV)

Charles Darwin: A Vida está em Permanente Transformação…

O ano de 2009 é um ano rico de efemérides com idades em números redondos. A 12 de Fevereiro comemoraram-se os 200 anos do nascimento de Darwin, um acontecimento da maior importância para o desenvolvimento da Ciência, em particular das Ciências Biológicas.

Charles Darwin nasceu a 12 de Fevereiro de 1809, Depois de alguma mudança nos domínios da sua formação, conseguiu diplomar-se na Universidade de Cambridge em Janeiro de 1831, sendo o 10º em 178 examinados, e em 27 de Dezembro do mesmo ano encontrava-se a bordo do HMS Beagle, para uma histórica viagem de volta ao mundo que durou até 2 de Outubro de 1836, e durante a qual recolheu elementos que lhe permitiram revolucionar todo o enquadramento do conhecimento biológico existente, afirmando que todos os seres vivos estão em transformação permanente.

Em 1838 escreveu o livro A Origem das Espécies, publicada em 1859, baseado nas extensíssimas observações que efectuou durante a sua viagem, comparando diferentes aspectos de espécies em diferentes localizações do mundo, e em particular no arquipélago das ilhas Galápagos. Nele afirmava que os animais e as plantas derivavam todos dum antepassado comum, e que a biologia era uma árvore. Esta afirmação punha em causa a afirmação de que todos os animais e plantas tinham sido criados por Deus, de acordo com uma leitura literal do Génesis, o primeiro livro da Bíblia, e em particular a ideia da árvore de Noé. Em 1871 publicou The Descent of Men, and Selection in Relation to Sexes, e aqui foi categoricamente afirmado que o homem e os macacos derivavam dum antepassado comum, e que hoje se pensa ter sido um animal muito parecido com o Lémure, um primata primitivo existente nas ilhas Madagáscar.

A teoria da Evolução evoluiu ela própria ao longo dos 150 anos desde a publicação de A Origem das Espécies. O ponto de partida resultou da observação que a mesma espécie existia em várias formas, e que isso era consequência de modificações na versão original através de selecção natural. Havia qualquer coisa na estrutura dos animais e plantas que sofria alterações estocásticas, e que depois as modificações sobreviviam ou não conforme a sua adaptação ao meio era mais favorável, ou tornavam a reprodução mais fácil: só havia evolução através do princípio da hereditariedade, a herança misturada (blended Heneritance). Esta teoria foi posta em causa pela descoberta do trabalho de Gregor Mendel nos alvores do Século XX, que propunha que o aspecto da hereditariedade, era discreta e não contínua como propunha Darwin. Porém entre 1918 e 1930 um grupo de cientistas provou que a teoria de Mendel era a teoria da hereditariedade necessária para justificar a Evolução Darwiniana. Subsequentemente a Teoria de Darwin modificada encontrou suporte nos estudos genéticos e permitiu explicar a notória característica de evolução que se observava nos registos fósseis e inclusivamente ser observada no nosso tempo. E mais interessante ainda, permitiu identificar os traços da nossa filogenia, e identificar problemas assentes nela.

A Teoria da Evolução das Espécies de Darwin sofreu desde o seu início grandes ataques, particularmente dos teólogos, que pretendiam que a teoria punha em causa a palavra de Deus revelada através da Bíblia. Mas conforme se avançou nos estudos biológicos mais claro se concluía que sem evolução a Biologia não fazia qualquer sentido como Ciência, e que não era função da Ciência estar de acordo com a Teologia, mas com os factos reais e objectivos. Pelo contrário era a Teologia que tinha de esclarecer as discrepâncias entre a Revelação Divina, e os dados da observação. Na verdade a Ciência é completamente agn óstica e nao tem de se preocupar se Deus existe ou não, pois tal conhecimento não se afirma por via da experiência ou observação. Pelo contrário era a Teologia que tinha de esclarecer as discrepâncias entre a Revelação Divina, e os dados da observação. A questão foi facilmente ultrapassada quando os teólogos concluíram que evidentemente o grau de compreensão da Palavra de Deus, não podia ser a mesma hoje da que podia ser atingida pelos homens primitivos. Daí a necessidade de dar uma nova interpretação da Bíblia e muito particularmente do Génesis, porque a bondade de Deus não permite que este nos revele falsidades evidentes, e que da contemplação da obra de Deus, fiquemos com ideias falsas àcerca da natureza da Sua obra. Um dos aspectos da Bondade Divina, é participarmos activamente nos Seus designios e actividades sem quaisquer ilusões ou ideias feitas.

O pensamento Darwiniano teve importantes consequências filosóficas. A sua versão do universo biológico permitiu substanciar o Materialismo (Dialéctico) de Marx e Engels. Na verdade as mutações que se observavam nos seres vivos e que depois sobreviviam por selecção natural, estava em contradição com o conceito teleológico de evolução natural com o fim de que o homem aparecesse e se afirmasse. Por outro lado mostrava como neste particular a matéria estava em permanente transformação, ou seja a evolução das espécies com a sua origem e extinção era uma manifestação do movimento da Matéria sem qualquer propósito que não fosse o de manter a Matéria em movimento. E esse processo tal como Darwin o tinha proposto estava de acordo com as regras da dialéctica, pois obedecia à Lei da Unidade dos Contrários, e ao princípio da unidade e da contradição no seio da Matéria. O conceito da dialéctica na Natureza saiu reforçada.

A Teoria de Darwin está hoje a sofrer um ataque insano das forças conservadoras, baseando-se numa pseudo-teologia que é uma afronta a Deus Pai Todo-Poderoso. Esses fundamentalistas cristãos nos seus argumentos mostram não saber nem Ciência nem Teologia. Os seus objectivos são a estupidificação do género humano. Daqui que se conclui que é preciso que os cidadãos e cidadãs tenham uma melhor formação filosófica, para não confundirem o que não pode ser confundido, e misturarem diversas formas de conhecimento; uma melhor formação cientifica para não confundirem os dados da experimentação, ou pô-los em causa sem qualquer fundamento objectivo; e uma melhor formação teológica para não confundirem a Revelação com o que está escrito. Se compete à escola formar os cidadãos e cidadãs nos dois primeiras áreas, de modo a eles não basearem as suas convicções em falsos saberes ou na inexistência destes, compete aos padres das varias confissões religiosas esclarecer a questão e elevar os crentes à verdadeira Palavra de Deus, para melhor compreensão do mistério da existência de Deus, da Sua obra e do género humano.

Há 200 anos nasceu um homem que lançou uma semente de sabedoria. Era profundamente religioso, e sofreu muito por ouvir os dislates proferidos por quem deveria ser igualmente sábio. Mas o espírito humano não para, e se deste debate não permite concluir se Deus existe ou não, permite pelo menos meditar em silencio sobre o seguinte pensamento de Darwin, que morreu em 1882, retirado de A Origem das Espécies: “Há grandeur nesta visão da vida, com os seus vários poderes, tendo sido originalmente assoprado pelo Criador em várias formas ou numa só; e que enquanto este planeta tem ido circulando de acordo com as leis fixas da gravitação, de um simples inicio formas sem fim, belas e maravilhosas foram e continuam a evoluir”. Este é também um elogio da Dialéctica.

domingo, 8 de março de 2009

Reflexões Estratégicas Globais (IV)

Escócia: A Carta do Povo Escocês

O aprofundamento da Crise em na Grã-Bretanha, aonde são esperados até ao findo ano 3 milhões de desempregados, e o esforço de salvamento dos bancos, à custa do erário público, ou seja da criação de riqueza dos trabalhadores, começa a preocupar as forças políticas progressistas do país. Na Escócia, o Comité Escocês de Representação dos Trabalhadores (Scottish Labour Representation Commitee) aonde se encontram representadas várias forças político-partidárias através de militantes sindicalistas, incluindo o ramo escocês do Partido Comunista da Bretanha (Communist Party of Britain) resolveu produzir a Carta do Povo Escocês (Scottish People’s Chart).

Oiçamos a apresentação do SLRC, que tem como jornal o The Citizen:

O SLRC original foi formado em 1900 para lutar pela representação política dos trabalhadores. No ano anterior, em 1899, o TUC Escocês (Trade Union Congress — Confederação dos Sindicatos Britânicos) juntou as uniões filiadas, a divisão escocesa do ILP e outras sociedades socialistas para coordenar a campanha para a representação através do Comité Parlamentar dos Trabalhadores Escoceses que mais tarde se juntou ao LRC.

Então como hoje, incerteza económica, desemprego e disrupção social ameaçava os trabalhadores. Hoje os que causam a crise, os banqueiros e os seus apoiantes corruptos estão a ser salvos nas costas da riqueza criada pelos trabalhadores. O LRC escocês foi reformado para que haja a certeza que a sua voz é ouvida ao promover um fórum onde socialistas e outros preparados para argumentar em defesa de um outro tipo de sociedade podem não só falar em conjunto, mas também actuar em conjunto em campanhas conjuntas como a Cartga do Povo Escocês.

Nós precisamos de:

·         Uma política económica baseada na propriedade pública e no controle democrático das secções chaves da economia, incluindo o fim de mais privatizações e PFIs, investimento directo em alojamento e serviços públicos camarários, a renacionalização dos caminhos de ferro, apoio para o serviço público de rádio e televisão e o desenvolvimento duma politica de ambiente e energia baseada na sustentabilidade ecológica e as necessidades das comunidades;

·         Uma política social baseada na redistribuição de riqueza e poder, incluindo a restauração total dos direitos dos sindicatos e um aumento no salário mínimo, uma pensão estatal decente e a restauração da sua ligação aos vencimentos, a restauração de bolsas estudantis, o fim das propinas suplementares e a selecção em educação, a restauração de poder local efectivo, a defesa dos direitos dos que pedem asilo, e a continuação da luta contra o racismo, a xenofobia e as ideias feitas contra os que têm deficiências;

·         Uma política estrangeira baseada na Paz, desarmamento nuclear, direitos humanos, o fim do apoio do Partido Trabalhista à direita do Partido Republicano nos USA, a retirada unilateral das forças Britânicas no Iraque, e a luta contra a globalização das grandes corporações.

Apresentado o SLRC, vejamos as grandes linhas de

A Carta do Povo Escocês

Nós precisamos de Mudança. Nós precisamos de Esperança.

Nós precisamos de uma Escócia mais justa e uma Bretanha mais justa.

Uma economia mais justa para uma sociedade mais justa:

Impostos progressivos sem fugas ou paraísos fiscais. Devemos possuir e controlar os bancos principais. Garantir todas as pensões, as hipotecas e poupanças. Indexar pensões e benefícios aos salários. Dar aos pensionistas transporte e aquecimento grátis. Aumentar o salário mínimo.

Mais e melhores empregos:

Defender e melhorar o emprego. Fazer um investimento massivo em novos postos de trabalho, particularmente em tecnologias verdes para beneficio das nossas crianças.

Casas decentes para todos:

Criar 250 000 novas casas de propriedade pública na Escócia nos próximos cinco anos. Parar com a retoma de casas. Controlar as rendas.

Salvar e melhorar os serviços:

Energia, Telecomunicações, Água e Transporte possuídos pos todos nós. Fim de fazer do NHS (National Health Service, Serviço Nacional de Saúde). Apoio aos trabalhadores do serviço público.

Para equidade e justiça

Igualdade para todos. Todos juntos contra racismo e descriminação. Salário igual para as mulheres. Terminemos com a pobreza infantil Libertem-se facilidades para jovens e crianças, educação e estágios para todos. Revogação das leis anti-sindicalismo para se lutar contra a pobreza e desigualdade.

Um futuro melhor começa agora:

Não mais sangue e dinheiro par a guerra. Regresso das tropas a casa. Não mais £biliões para armas nucleares. Não à renovação do Trident. Queremos investimento massivo num mundo mais verde e protegido. Façam desaparecer a economia da divida na Grã-Bretanha e perdoem as dividas dos pobres do Planeta.

A Carta do Povo Escocês constitui um documento impressionante, quando se sabe que em toda a Grã-Bretanha morrem todos os anos milhares de velhos pensionistas por não terem dinheiro para pagar aquecimento; aonde há 130 000 crianças que vivem ao relento por não terem alojamento; e aonde há já mulheres a porem os maridos fora de casa por estes estarem desempregados.

Esta carta exprime uma característica curiosa da sua paternidade: contrariamente ao que afirmou Lenine, o movimento operário britânico continua a organizar-se politicamente nos sindicatos e as organizações politicas e os seus dirigentes só têm legitimidade interna se surgirem duma legitimidade eleitoral da Classe Operaria. Esta tradição cartista pré-marxista se tem algumas virtualidades corre o risco de não ir muito longe, pois a acção politica se deve estar ancorada às organizações de massas dos trabalhadores não pode ser limitada por estas, pois a acção politica tem de transcender o movimento sindical como o afirmou Lenine no Que Fazer?.

De qualquer forma este documento se for seguido pode ter consequências muito importantes, conforme foi afirmado na Conferência do Morning Star escocês, The Economic Crisis: Who is to fix it?, sob a égide do CPB, que decorreu no passado domingo dia 1 de Março nas instalações do STUC de Glasgow, com a participação de várias organizações politicas comprometidas com este documento. É uma importante contribuição para a luta de todos nós, e esperamos que cumpra os seus objectivos.