quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cartas Escocesas (XIV)

O adeus à Escócia

Está prestes a terminar o período de Licença Sabática aqui na Escócia. Foi um período de onze meses muito rico tanto na esfera científica como na esfera politica.

O Mundo protagonizou uma crise económico-financeira sem paralelo nos tempos modernos que colocou em causa a capacidade do Sistema Capitalista ter capacidade para continuar o seu trajecto de dominação e exploração globais. Porem devido à incapacidade manifesta das massas populares de organizadamente lhe fazerem frente à escala planetária, conseguiu recuperar à custa de injecções financeiras sem paralelo nos tempos passados próximos.

Em termos europeus pretende-se que os eleitores votem numa organização política que lhes nega o elementar direito de votar em referendo sobre as bases gerais da sua estrutura, e que quando os eleitores dizem não, como na Irlanda, são insultados e coagidos a reverem as suas posições.

No plano português as Eleições Europeias mostraram que existe um largo sector que está desiludido; e em consequência por outro lado um número cada vez maior de eleitores vota à Esquerda abrindo as melhores perspectivas para retirar do Governo uma camarilha que se afirma socialista, e vai fazendo todos os fretes ao grande patronato, penalizando os trabalhadores.

Enquanto estes factos foram tendo lugar fui cumprindo aqui as minhas obrigações profissionais, escrevendo artigos científicos, e procurando expandir a teoria da radiação de pulsares, estrelas de neutrões em rotação rápida. Conseguimos fazer três quase concluídos.

O desenvolvimento do trabalho obrigou-me a desguarnecer o blogue. Assim não pude comentar como gostaria a grande manifestação da CDU que tão importante foi para dar confiança ao pessoal e votar à Esquerda. Não falei sobre Soeiro Pereira Gomes, um intelectual operário e um dos comunistas portugueses de referência. E com certeza muitas outras coisas como por exemplo a politica internacional dos USA-Obama, ou a súbita falta de todos esses instrumentos jurídicos que se dizia iriam ser postos no lugar para evitar que outras crises se repitam; ou ainda a falta de vergonha dos deputados britânicos que apresentavam contas sumptuárias, algumas falsas, para que o Parlamento lhes desse dotações extra.

Foi uma excelente visão da evolução do Capitalismo nesta sua fase imperialista bem agressiva, aliás no seguimento do pensamento de Marx que dizia que Londres era uma excelente janela para sabermos o que se passa no mundo. Com as novas tecnologias, qualquer grande cidade do Reino Unido é hoje uma excelente janela sobre o mundo.

Termino estas crónicas com uma referência à Escócia. Com a Devolução a sociedade Escocesa começou um processo de autodeterminação, que se manifesta entre outras coisas, num estudo aprofundado da sua História. Existe uma forte corrente que pretende ir mais longe e quer a independência. Com o conhecimento que temos destas duas grande nações, a Escócia e a Inglaterra, parece-nos que para o bem e para o mal deverão permanecer unidas, pois a união é uma das maiores forças que ambas têm para se afirmar no Mundo. É nossa convicção por outro lado que a presença da Escócia no Reino Unido, é um factor de coesão da Inglaterra. Parece-nos isso sim que o Reino Unido deveria ter uma Constituição Federal reconhecendo que Inglaterra, Escócia e País de Gales são de facto três nações, e criar os instrumentos de articulação política entre si, que as projectasse em conjunto no mundo, exprimindo a sua diversidade.

E até Portugal.