quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Aniversários Marcantes (III)

A Bola: 64 anos do Jornal de Todos os Desportos

Foi há 64 anos que o Tenente-Coronel Ribeiro dos Reis, o empresário Vicente Melo e o jornalista Cândido de Oliveira (que esteve no campo de concentração do Tarrafal), consideraram a necessidade de publicação de um jornal desportivo que se preocupasse com a respectiva problemática. Assim nascia A Bola, Jornal de Todos os Desportos, a 29 de Janeiro de 1945.

Esta publicação tornou-se imediatamente um jornal de referência, particularmente no que diz respeito ao Futebol pois hoje, como aliás sempre, só 10% do jornal é extra-futebol. Num país aonde os desportistas são fundamentalmente de bancada, é natural que este jornal rapidamente se tornasse o de maior circulação do país, o único jornal que muitos portugueses lêem, embora não se publicasse todos os dias, pois só hoje isso acontece. Ele respondia à apetência dos seus leitores sobre os temas e fofoquices do Desporto-Rei, e caracterizava-se como ainda hoje, por uma notável competência na analise da problemática futebolística. Embora fundado por três anti-fascistas, característica que manteve sempre e nunca enjeitou, a sua importância extravasou a de simples orgão de informação, pois os seus escritos influenciaram de forma determinante a pseudo-política desportiva do Fascismo e depois a política desportiva da Democracia.

A Bola foi responsável pelo endeusamento e promoção das campanhas do Sport Lisboa e Benfica nos idos de 60, quando ganhou as duas Taças dos Clubes Campeões Europeus, pela promoção justíssima do respectivo treinador, Bela Guttmann, e por ter conseguido que este clube seja hoje o que tem mais sócios na sua área. Desta forma A Bola assumiu-se como a ponta de lança na defesa dos interesses coloniais que estiveram subjacentes a estes êxitos.

Sendo discutível a necessidade dum tal jornal e com estas características, não podemos deixar de felicitar todos os que nele trabalham, e que continuem a exibir a competência que os anima.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Adeus às Armas (III)

A Grande Dama de StarTrek deixou-nos…

Nasceu no dia 23 de Fevereiro do ano da Graça de 1932, em Columbus, Ohio, USA, e baptizaram-na Majel Leigh Hudec. Nos idos de 50, depois de ter frequentado a Universidade de Miami, em Coral Gables, Florida, resolveu deslocar-se para Los Angeles, Califórnia, aonde tentou começar uma carreira de actriz. Claro que o nome não ajudava, pelo que resolveu mudá-lo para Majel Barrett.

Com uma carreira muito aquém dos seus predicados, embora participando em “Bonanza”, “Os Intocáveis” e “The Lucy Show”, Majel Barrett conheceu Gene Roddenberry quando este era o produtor da série “The Lieutenant”. Majel entrou então na História pela porta grande, pois Gene é o Criador, o pai imortal de StarTrek, que contem o maior mito do Século XX, a StarFleet, e deu-lhe como principal tarefa representar o papel de Imediata do USS Enterprise, no famoso episódio “The Cage”. Simultaneamente tornaram-se amantes, e quando o episódio não foi aceite, Gene teve de a retirar do projecto com o destaque que tinha. Aproveitou então para reorganizar a sua vida amorosa, divorciando-se, e casando com Majel, passando esta a usar o nome de Majel Barrett Roddenberry. Ao mesmo tempo refez todo o projecto StarTrek.

Majel representou dois papéis em StarTrek que a definiram: a da enfermeira Christine Chapel, mais tarde a médica do mesmo nome, e a embaixadora Betazoide Lwaxwana Troi, Deu também a sua voz aos computadores da série. Ela foi a Primeira Dama de Star Trek.

Após a morte de Gene Roddenberry em 1991, Majel dedicou a sua vida à causa StarTrek e dos outros projectos que Gene deixara por fazer, e de que ela dirigiu a materialização, caso da série “Andrómeda”. Ela foi a referencia viva de Gene, que com ela passara a ser o Criador, e o Grande Pássaro da Galáxia. Quando nos idos de 90 a NASA quis homenagear Gene, ela presidiu ao lançamento no espaço das suas cinzas.

Esta grande mulher, uma das maiores do Século XX, com uma profunda consciência progressista, faleceu com 76 anos a 18 de Dezembro de 2008, em Bel-Air, Los Angeles, Califórnia, rodeada de amigos e tendo o filho Eugene Roddenberry com ela. Milhões de seres humanos ficaram de luto. É um fim duma época, exactamente na altura em que muitos dos ideais que estão na origem de StarTrek encontraram expressão na vitória de Barack Obama e que ela ainda presenciou, no sofrimento da leucemia que a retirou ao nosso convívio.

Embora só agora tivéssemos tido conhecimento deste infausto acontecimento, em Portugal os oficiais honorários da StarFleet prestaram já as suas homenagens. De um deles Srui, retiramos do blog http://www.startrekemportugues.blogspot.com/ o seguinte poema:

Para Majel

Adeus
Rainha das Estrelas
Princesa de Betazed
Enfermeira carinhosa

Fica o teu sorriso
o teu empenho
o teu trabalho
e a tua voz melodiosa

Ao lado do Grande Pássaro
olha por nós
e ajuda-nos a tornar
A Terra mais harmoniosa

 

domingo, 25 de janeiro de 2009

Cartas Escocesas (IX)

USA: O Encontro com a História

O passado dia 20 de Janeiro ficará como um virar de página da História do Estados Unidos da América. Ao tomar posse como 44º Presidente dos USA, Barack Obama corporizou um dos acontecimentos mais importantes do processo de construção daquele país desde a sua Fundação: o início do enterro da descriminação racial e do começo da afirmação duma sociedade verdadeiramente multiétnica e realmente integrada.

Os Pais Fundadores, subscritores da Declaração de Independência de Filadélfia em 1776, proclamaram um novo Estado com um governo do povo, pelo povo e para o povo. Era a Revolução Americana. Mas o conceito de povo era algo limitado, pois cobria somente a etnia branca, visto os Pais Fundadores serem proprietários de escravos. Este facto foi razão para um conjunto de equívocos que envenenaram a História dos USA durante quase um século e que conduziria à Guerra Cívil em 1861. Coube a Abraham Lincoln, o imortal Presidente da União, obrigar à libertação da escravatura negra, ganhando a Guerra Civil que em território americano opôs os que pretendiam que todos os seres humanos independentemente da cor da pele deveriam sefr livres, aos que se achavam com direito a ser donos de alguns dos seus semelhantes, os Cavalheiros do Sul. Esta Guerra foi ela própria uma fonte de equívocos, visto que a luta contra o esclavagismo resultava do facto dos estados do Norte serem industriais, enquanto que os do Sul agrícolas; e em consequência o Norte desejar uma economia totalmente capitalista, aonde os trabalhadores fossem senhores de negociar a sua força de trabalho.

Por via disto a Guerra Civil foi naturalmente conduzida com algumas aberrações. No exército da União os negros eram livres mas formavam regimentos segregados. Essa situação manteve-se muito para além do razoável após o fim da Guerra Civil. O assassinato de Lincoln e a falta de vontade política de por fim à descriminação étnica, com a emergência do Ku Klux Klan que transformou os cavalheiros esclavagistas do Sul em vulgares assassinos, fez com que a essa descriminação se mantivesse até aos idos de 60. Nessa altura a descriminação envolvia também as minorias nativas, os vulgares índios, e os emigrantes de origem chinesa e japonesa. Embora a luta dos direito cívicos encabeçada por Martin Luther King tivesse melhorado substancialmente esta situação, na verdade coexistiam e interpenetravam-se nos USA e no mesmo espaço varias nações que se suportavam, mantinham a sua identidade própria, e que tinham até dificuldade em se miscigenar.

Foi este o esforço de Barack Obama, ao afirmar que não existia uma América Branca, uma América negra, uma América índia, uma América de etnia chinesa ou japonesa. O que existe são os Estados Unidos da América, formados por cidadãos e cidadãs com idênticos direitos e deveres, e que por isso mesmo têm de ter o direito às mesmas oportunidades, independentemente de origem social, raça, sexo, religião, ideologia, e orientação sexual. Isto mesmo foi compreendido pelas várias etnias da sociedade americana que em Novembro votaram em Obama: 93% de afro-americanos, 2/3 dos Hispânicos, fortes votações maioritárias nos Americanos de origem asiática, nos americanos nativos, dos Judeus e dos americanos de origem árabe. Há ainda fortes votações nos sindicalizados e nas minorias sexuais.

E assim no passado dia 20 de Janeiro assistiu-se à maior manifestação de massas que teve lugar na cidade desde a marcha sobre Washington de 1963, tendo à frente Martin Luther King. Eram todos aqueles que querem ter esperança em que é possível haver na Casa Branca um inquilino que cumpra a vontade dos trabalhadores.

No entanto este processo, apesar da sua importância, é um monstruoso equívoco. Trata-se de uma grande manifestação de afirmação democrática, sem a necessária contrapartida programática, a de que a ultrapassagem da crise exige uma nova politica, que tem de fazer um corte radical com a actual ordem capitalista. Embora as primeiras decisões sejam favoráveis à ideia de que é possível um novo Governo, é preciso ter em conta que os USA são a base do Imperialismo e que isso não foi posto em causa. 

Mas se as esperanças não forem satisfeitas, o mesmo movimento de massas que colocou Obama aonde ele agora está, pode mover-se noutra direcção, e juntar-se à grande família daqueles que já hoje se esforçam por construir uma sociedade mais justa e mais fraterna sem a subordinação ao imperialismo. Nessa altura poderemos ver uma nova relação fraterna com a América Latina, o fim do bloqueio a Cuba, o fim do apoio ao sionismo que pretende dominar os Árabes, enfim a afirmação dum relacionamento democrático à escala internacional. Este desiderato é impossível com a equipa que Obama empossou, pois foi protagonista do muito que a actual crise do Capitalismo mostrou ser atentatória dos direitos dos Povos.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Efemérides Inolvidáveis (III)

Cuba: Vivam 50 anos de Socialismo em construção!

No dia 1 de Janeiro de 1959 pelas 0.00 horas, unidades do Exército de Libertação Nacional de Cuba entraram em Havana. Puseram assim fim ao governo sinistro do ditador Fulgencio Batista, que governava Cuba e o seu povo com mão de ferro, ao serviço dos interesses mais sinistros do Imperialismo, incluindo os interesses mafiosos, torturando e assassinando os que ousavam opor-se-lhe. Batista viria a refugiar-se na ilha da Madeira, como manifestação especial de amizade do ditador fascista Salazar. Os grandes espíritos encontram-se sempre…

Havana era ao tempo um gigantesco prostíbulo, e os grandes interesses da Máfia (Cosa Nostra), negociavam-se às claras nos casinos e restaurantes possuídos por todos estes interesses. O filme de Francis Ford Coppolla, o Padrinho (parte II), conta-nos como essa foi a passagem do ano mais movimentada de todos os trastes americanos que tinham ido gozar o fim do ano a Havana, e tiveram que abandonar à pressa nos seus yachts e aviões, perseguidos pela ira do povo cubano, que às primeiras horas do novo ano se dedicou a escavacar os frutos da anterior ordem exploradora.

No dia 8 de Janeiro de 1959 o Comandante-em-Chefe do Exército de Libertação Nacional de Cuba, Fidel Castro, entrou em Havana, acompanhado dos restantes comandantes da Revolução, Raul Castro, Ernesto “Che” Guevara, Camilo Cienfuegos, Haydée Santamaria e outros. Cumpria-se assim o primeiro grande objectivo do Movimento de 26 de Julho, nomeado em honra da data de 1953 em que a luta tinha começado com o ataque ao Quartel Moncada. Após a tomada da Cidade de Santa Clara pelas colunas comandadas por “Che” nas vésperas do Ano Novo, previu-se que o fim da ditadura de Batista seria uma questão de dias, o que veio a acontecer.

Estamos assim nas comemorações de Ouro destes acontecimentos históricos para todo o Mundo. Goste-se ou não, a Revolução Cubana exerceu uma influência determinante nas nossas vidas, e vai continuar a exercê-la no futuro próximo e longínquo. À data da revolução a América Latina era o quinchoso (quintal das traseiras) do amigo USA, cujas riquezas ele explorava e delapidava a seu belo prazer, reduzindo à miséria os respectivos povos. Os 50 anos da Revolução Cubana são também o acordar duma América Latina cujos povos começam a assumir o seu destino, de cabeça levantada e numa posição vertical. Na verdade a Revolução Cubana permitiu o recuperar das acções revolucionárias da América Latina de Simão Bolívar, José Marti, Sandino e Tupak Amaru entre outros, que hoje têm expressão na revolução bolivariana na Venezuela, na Bolívia, na Nicarágua, no Equador, no Paraguai. Novos dirigentes emergiram: além dos comandantes da revolução cubana já assinalados, temos ainda entre muitos outros Daniel Ortega na Nicarágua, Evo Morales na Bolívia, Hugo Chavez na Venezuela, Rafael Correa no Equador, Fernando Lugo no Paraguai.

Mas o heroísmo de 50 anos da Revolução Cubana mostra-se através da sua própria História. O vizinho do Norte nunca perdoou aos Cubanos terem tomado em mãos o seu destino, e de pretenderem ser efectivamente livres e não um protectorado como Puerto Rico. A reforma agrária azedou a situação e o bloqueio foi sempre a palavra de ordem do Imperialismo. Nestes 50 anos as contradições inerentes ao campo imperialista permitiram que a Revolução Cubano encontrasse meios de o ultrapassar, nomeadamente a celerada Lei Helms-Burton, que viola descaradamente o direito internacional, e pretende impedir que empresas não-USA comerceiem com Cuba Socialista.

Muitas têm sido as agressões a Cuba nestes 50 anos. A mais notória para além da Lei Helms-Burton, uma agressão continuada, foi a invasão da ilha por agentes da CIA e e escumalha cubana, comandados pela Presidência dos USA, na Baia dos Porcos. Esta invasão foi destruída pelo povo cubano cujo destacamento na Baia foi aniquilado pelos invasores, mas cuja resistência heróica permitiu que todos os invasores fossem em seguida aprisionados. Mas Posado Casillas em actos de terrorismo ao serviço do Imperialismo destruiu aeronaves cubanas, e cinco cidadãos cubanos encontram-se nas prisões dos USA por terem tentado ajudar na luta contra o terrorismo.

A luta do povo cubano, dirigida pelo Partido Comunista de Cuba entretanto refundado, tem assim uma dimensão interna e externa, altamente inspiradora da vontade dos povos para atingirem a Revolução.

A dimensão interna é enorme, ao permitir que um país com recursos, mas sem meios, pois são-lhes negados pelo Imperialismo, possa aumentar o seu bem-estar, colectivo e de cada cidadão. São assim notórios os êxitos nas áreas da ciência, tecnologia, saúde, educação e desporto, em que Cuba está na vanguarda da civilização, e até faz chegar a sua influência a outros pontos da América Latina. Em Cuba não há crianças com fome, nem há analfabetos, sendo que a saúde é um bem universal.

No plano externo a ajudo internacionalista a Angola foi crucial para a estabilidade futura deste país, ex-colónia portuguesa, e para o fim do Apartheid na África do Sul, quando o corpo expedicionário cubano derrotou o exército invasor racista sul-africano na histórica batalha de Quito Canavale. Hoje as tarefas têm sido bem mais pacíficas, e Cuba perfila-se como uma força essencial à afirmação da América Latina perante um Mundo que o Imperialismo pretende global. ALBA e a adesão ao Grupo do Rio aí estão para o provar.

Terminaria esta homenagem recordando episódios da minha vida ligados a estes acontecimentos longínquos, mas tão perto de nós. Quando o Exercito de Libertação Nacional de Cuba entrou em Havana, e apesar de ter só 9 anos e 10 meses, fiquei cheio de emoção. Fidel Castro era o meu herói de menino, que eu não podia tornar público, e acabara de me dar uma grande alegria. Nessa altura pensei porque é que Fulgencio Batista tinha de ir gozar o sol da Madeira, quando podia ter sido despachado para a Florida por exemplo. Fidel Castro continua a ser uma das minhas referencias humanas, hoje entre outras, e gostaria de poder ainda dar-lhe um grande abraço. Foi para mim uma grande alegria ter feito parte da Comissão de Apoio à Venezuela Bolivariana, por saber como ele e eu a consideramos importante.

Cosmosophia Portucalensis saúda o heróico povo Cubano, os heróis e os Comandantes da Revolução, e em especial o Comandante-em-Chefe Camarada Fidel Castro, e o Presidente do Conselho de Estado e de Ministros, General do Exército Camarada Raul Castro, nestes 50 anos. Que o vosso futuro continue a ser tão frutuoso e inspirador da Revolução para os povos do Mundo, como o foi até agora.

Viva Cuba Livre!

Pátria, Socialismo ou Morte!

Venceremos!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ventos de Guerra (II)

Gaza: A Tragédia

Encontrávamo-nos todos na paz do Senhor a gozar as férias do Natal de Cristo, quando aqueles que se afirmam o Povo Eleito de Deus, iniciaram o mais sangrento ataque de que há memória sobre o povo palestiniano na Faixa de Gaza. Trata-se duma das maiores agressões daqueles que, pretendendo ser o que não são, são de facto a ponta de lança da dominação do Imperialismo no Médio Oriente, e garantia de que nessa zona, terminado o domínio colonial de Franceses e Ingleses, o Imperialismo continuaria a explorar as fontes de riqueza que deveriam pertencer aos povos autóctones dessa zona.

A afirmação do estado de Israel constitui uma das grandes mistificações da História, produto duma teoria extraordinária, o Sionismo, inventada no Século XIX, pelo judeu austríaco, Natham Bimbaum, que pretendeu que os judeus tinham direito a ocupar a Palestina, pois essa terra de azeite e mel tinha-lhes sido prometido no início da História por Deus Pai Todo-Poderoso, e isso teria como inevitável consequência o domínio das populações autóctones.

Abraão, pastor da Cidade de Ur, e toda a sua parentela, adorava Jeová que quer dizer um Deus sem nome. Como não tinha mais nada que fazer, conversava com o seu Deus, e este ter-lhe-ia cometido a tarefa ingente de abandonar os seus concidadãos e concidadãs, maioritariamente politeístas, agrupar os parentes próximos e distantes, todos como ele tementes a Deus único, e irem ocupar o território hoje da Palestina. Um problema existia: os ditos territórios já eram ocupados por populações que não estavam muito afins de serem espoliadas. Mas Abraão confiou no seu Deus que lhe deu meios para vencer os autóctones naturalmente politeístas e assim inimigos do Deus verdadeiro.

A Bíblia constitui o repositório do que foi a vida nesses território depois do início do domínio dos Judeus, os descendentes dos conquistadores monoteístas. É uma sucessão de crimes sem nome, mas sempre justificados pelo desejo de agradar a Deus. Este pareceu mais interessado em utilizar a brutalidade dos seus seguidores, do que em promover uma actuação mais de acordo com o respeito dos direitos dos cidadãos.

Mas uma nova força se perfilou no mundo, o Império Romano. Os seus dirigentes não tinham problemas, ou os povos adjacentes engordavam o Império a bem, ou faziam-no a mal. Os dirigentes judaicos resolveram cooperar, à custa da sua arraia-miúda. Os dois reinos que por essa altura adoravam o mesmo Deus, Israel e a Judeia, integraram o Império Romano. Mas os respectivos povos não estavam de acordo, e as revoltas sucediam-se. A brutalidade dos Romanos, politeístas, era um dado brutal. Então Deus achou que a coisa estava a passar das marcas e enviou uma parte de si mesmo, Jesus Cristo, por isso mesmo considerado consubstancial ao Pai, na unidade do Espírito Santo. E então foi explicado que essa coisa do povo eleito, não era assim tão linear, porque não dizia respeito a um povo específico, mas a todos os que cumprissem a Palavra de Deus, mesmo que nele não acreditassem. E que os homens eram todos irmãos, porque todos filhos do Pai. E Cristo dispôs-se como exemplo a deixar-se imolar para se tornar patente toda a brutalidade da classe dominante romana, que não era diferente da brutalidade da classe dirigente judaica, como ficou demonstrado. Em tudo isto, e nunca é demais afirmá-lo, o povo judaico está naturalmente absolvido.

A morte de Jesus Cristo na cruz ultrapassou as expectativas mais delirantes da Santíssima Trindade, e surpreendeu-a de tal modo que Jesus Cristo na cruz teve de suplicar: — Pai, perdoai-lhes que eles não sabem o que fazem! Foi de facto duma brutalidade exemplar. Os Judeus consideraram que as coisas tinham ido longe de mais, e tornaram-se então uma força que levou a sua luta contra os Romanos a níveis nunca pensados. As autoridades do Império trataram então de lhes fazer a vida negra e eles começaram a imigrar, de tal modo que poucos séculos depois já poucos judeus existiam na Palestina. Ficaram os inicialmente autóctones, e porque povos do Deserto, assumiram na sua grande maioria a religião muçulmana, visto que muitos deles tinham já abraçado à muito os ensinamentos de Jesus Cristo em vários sabores locais. Jerusalém, centro ecuménico, tornou-se a cidade de três religiões, todos fieis a Deus Pai Todo-Poderoso, mas com distintas compreensões do Filho, e ainda mais do Espírito Santo.

Os Judeus espalharam-se pelo mundo, mas nunca foram bem aceites pelas teocracias cristãs e muçulmanas, pelo que nunca se integraram devidamente nas sociedades aonde viviam. Para além das perseguições da Santa Inquisição, os judeus do Século XIX estavam fora do jogo da cidadania, devido aos conceitos teocráticos terem sobrevivido à Revolução Francesa. Em vez de lutarem pela integração nas sociedades em que viviam, muitos judeus passaram a suspirar pela Terra Prometida, para nela instalar uma teocracia judaica. Surgiu assim o Sionismo, e os judeus dezassete séculos depois de terem sido reduzidos à sua expressão mais simples na Palestina, começaram a regressar em força à sua “Terra Prometida”, procurado por de lado os que já lá se encontravam.

A Solução Final Nazi e as posteriores necessidades do Imperialismo em dominarem o petróleo da região, levaram à aceitação de que o Sionismo era a coisa mais natural do Mundo, e que os autóctones árabes, cristãos e muçulmanos, tinham que se dobrar aos novos senhores, que chegavam em catadupa da Europa. Mas na verdade o Sionismo é uma enormidade teológica e politica. Teológica, porque não há povos eleitos. Politica porque se baseia na força dos poderosos, e no facto insofismável de que os judeus dominam uma parte considerável da alta finança, e graças a isso conseguem todos apoios para os seus fins, incluindo o serem a elite do poder agressivo do Imperialismo.

Na sua ocupação da Palestina, Israel constitui um estado teocrático, aonde só são cidadãos os judeus e alguns árabes que lhes sejam indispensáveis, e forma a parte de leão, e vão ocupando áreas de território que deverão estar nas mãos dos palestinianos, e criando zonas protegidas por muros ilegítimos, que dificultam a circulação dos mesmos palestinianos. Para a teocracia sionista o Estado da Palestina será sempre um protectorado aonde os sionistas actuam quando quiserem. Neste contexto a questão de Jerusalém é paradigmática: Israel pretende dominar a cidade, que sendo de três religiões, não pode de facto estar nas mãos da teocracia sionista, e por nisso mesmo deve ser gerida por todos os que nela vivem, independentemente da sua religião. Mas isso só será possível, ou declarando a cidade internacional, e gerida pelas Nações Unidas, ou assumindo que a questão da Palestina só pode ser resolvida no actual momento histórico, aceitando a solução do dirigente líbio Muammar al-Gaddafi, federalizando o Estado Palestino com as suas duas componentes árabes e judias.

A brutalidade sionista, parente próxima da brutalidade nazi contra os judeus, tem de ser denunciada, e deverá ser feita desde já a partir deste ataque a Gaza, e ao povo que nela vive. A comunidade internacional, e a sua organização política, as Nações Unidas, não podem continuar a ver massacrar o povo palestiniano e ficar à espera que o problema se resolva por si. É necessário fazer parar as hordas sionistas, mesmo que elas estejam mascaradas da tecnologia repressiva que lhes foi oferecida pelo seus patrões imperialistas, e que eles como participantes no festim da exploração aplicam de forma criadora, dando assim uma nova expressão à barbárie racionalizada característica da dominação capitalista.