quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Reflexões Estratégicas Domésticas VIII

Jornal iÉ necessário partir a espinha a comentadores lacaios fascistas
No passado dia 9 de Setembro de 2011 António Ribeiro Ferreira, publicou no Jornal i um editorial em que sugeria ser necessário e urgente partir a espinha aos sindicatos, como em tempos sugeriu Maldonado Gonelha em relação à CGTP, pois de acordo com tão preclaro plumitivo têm uma quota-parte de responsabilidade na bancarrota e julgam-se donos do país. Ontem, 14 de Setembro, o mesmo traste publicou um novo monte de lixo sob o título O coração e a razão social-democrata apostrofando a ideia de que os cidadãos e cidadãs deste país devem ter uma opinião e expressá-la livremente das mais variadas formas.
É muito preocupante que o director de um jornal que devia ser um apóstolo da cidadania e dos direitos dos cidadãos constitucionalmente protegidos, seja de facto um fascista, que defende actuações políticas que configuram a preparação dum golpe de Estado fascista, pois tal permitiria a mais extensa violência sobre os trabalhadores por parte das forças do grande capital, com total anulamento da Constituição de Abril. Foi assim que George Dimitrov definiu o fascismo no VII Congresso da Internacional Comunista: a ditadura terrorista do capital financeiro. E é isto que o grande capital gostaria que acontecesse: puderem continuar com as suas trafulhices fugindo ao justo escrutínio dos trabalhadores através dum vário leque de organizações, sejam elas sindicatos ou outras.
p24foto2Vivemos em liberdade e assim queremos continuar. Os sindicatos são expressão da nossa solidariedade colectiva. E têm de continuar a expressar, em nome dos trabalhadores, o que pensam dos desmandos do grande capital que não têm pejo em delapidar o nosso dinheiro na economia de casino, e depois de nos roubarem vêm exigir ainda mais espoliação para cobrir o que delapidaram. A culpa da crise é do grande capital e não dos trabalhadoresMas a estupidez e o ódio aos trabalhadores de ARF é tal que não tem escrúpulos em escrever em 9 de Setembro esta verdadeira obscenidade: É claro que os senhores sindicalistas, como tal ou na qualidade de cidadãos, sempre com via verde para a comunicação social, podem opinar sobre as privatizações, as nacionalizações ou as nomeações de administradores. Mas apenas isso. O mesmo se diga na educação com os poderosos sindicatos e federações do sector. Os senhores falam sobre tudo. Currículos, preços de manuais escolares, escolha de directores para as escolas, extinção de direcções regionais, orçamentos de funcionamento dos estabelecimentos de ensino, número de professores contratados pelo Estado, horas de matemática e português, enfim, são uns verdadeiros tudólogos da educação com o professor Mário Nogueira, líder da maior federação sindical, até preocupado e indignado com a falta de papel higiénico nas escolas.  De acordo com ARF os sindicatos falam sobre tudo o que diz respeito à sua profissão. Mas perguntamos nós, não são eles os mais qualificados para tal? Quem vai decidir sobre estas matérias, políticos generalistas que não fazem a mínima ideia do que é o processo educativo? Ou vai continuar a política do quero posso e mando contra os professores e professoras deste desafortunado país, procurando que eles sejam cumpridores obedientes da formatação de consciências ao serviço do capitalismop23foto3, pervertendo a qualidade da nossa cidadania?
Os direitos constitucionais dos trabalhadores devem continuar a ser protegidos, pela vigilância organizado dos próprios. A democracia participativa tem de sair reforçada. E compete aos trabalhadores garantir por todos os meios constitucionalmente permitidos proteger estes direitos. E prosseguir a luta para garantir a reversão da espoliação de que estão a ser vítimas. É isso que preocupa a Direita e em especial a mais reaccionária: que a luta dos trabalhadores tenha sucesso e sejam obrigados a pagar os seus crimes económico-financeiros contra todos nós. E daí não seja estranho que apelem ao Golpe de Estado. É o que ARF sugere ontem (14 de Setembro) no seu editorial a propósito da luta dos gregos: Neste cenário dantesco, a Alemanha estuda a forma menos dolorosa de evitar a insolvência descontrolada da Grécia e já há quem admita que os militares podem sair dos quartéis para pôr alguma ordem no país. Apesar das juras de amor democráticas da União Europeia, imagina-se o alívio que tal solução causaria em Bruxelas e Berlim. Com a desordem nas ruas e a impotência das autoridades, as forças armadas apenas iriam repor as condições mínimas para o país voltar à normalidade democrática o mais depressa possível.
Seria de facto óptimo. Os trabalhadores ficavam a ver os patrões a tripudiarem sobre o orçamento, satisfazendo a sua gula natural e continuando a espoliá-los sem fim à vista, e a trabalhar ao ritmo do chicote como no Chile de Pinochet. E é também para impedir isto que no futuro próximo vamos manifestar na ruas a nossa vigilância organizada, que sendo democrática não é menos revolucionária.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Adeus às Armas VII

Spartacus00Andy Whitfield: a nova imagem de Spartacus desvaneceu-se

Muitas coisas há a discutir neste blog, mas a notícia da morte de Andy Whitfield com 39 anos, actor galês radicado na Austrália, obriga a fazermos uma pausa. Assinalar esta morte provocada por cancro resulta de ele ser a nova imagem de Spartacus, na produção Spartacus: Sangue e Arena, difundida pelo cadeia de televisão por cabo FOX.

A série em causa constitui um impressionante roteiro dos acontecimentos que precederam a revolta dos escravos que no longínquo ano de 70 AC imortalizou Spartacus, o seu dirigente máximo. Foi talvez a mais importante revolta de escravos no Império Romano, que chegou a mobilizar 90 000 homens, na sua maioria escravos, mas que tinha também uma componente formada por indivíduos que não tinham nada a perder. A revolta durou vários anos, e acabou com a sua derrota às mãos de Crassus, Pompeu e, na retaguarda, Caius Iulius Caesar Augustus. Depois da derrota do exército de Spartacus, estas três personalidades formaram o I Triunvirato, do qual só sobreviveu Iulius Caesar até ser assassinado.

Spartacus01A sociedade romana era uma sociedade esclavagista violenta, aonde a actividade sexual desempenhava um papel de primeiro plano, e usada para reforçar a supremacia da classe esclavagista dominante. A série mostra-nos como tudo se passava de uma forma crua, aonde o assassinato era uma questão corriqueira. A justiça era pública mas de classe, pois dependia muito do posicionamento social do criminoso e da vítima. Tudo isto é mostrado de forma brilhante na série, duma forma muito mais incisiva do que no filme Spartacus de Stanley Kubrick impossibilitado pelos produtores de mostrar toda a podridão da sociedade romana, apesar dos esforços de Kirk Douglas. Os tempos efectivamente mudaram…

Nesta produção Andy Whitfield tem uma prestação fabulosa. Filmada de acordo com as novas tecnologias que produziram o filme 300 sobre a Batalha das Termópilas na Grécia antiga, a série tem um grafismo poderoso. Mas só trata do que se passou e das motivações de Spartacus para programar a fuga e o que sucedeu até ao genocídio dos seus donos. O que se passou a seguir será contado numa nova série de continuação.spartacus03

Quando as filmagens da primeira série, Spartacus: Sangue e Arena, estavam a chegar ao fim, soube-se que Andy Whitfield tinha um cancro e estava condenado. Durou 18 meses, morrendo neste Domingo, 11 de Setembro. Os produtores tiveram de o substituir na segunda série por Liam McIntyre. Mas ainda que a nova série nos conte o que sucedeu na luta de Spartacus contra o Império Romano, e Liam McIntyre seja magnífico, nunca poderemos esquecer a personificação de Spartacus por Andy Whitfield, o galês que abraçou a Escola Australiana de cinema. Ele deu-nos uma nova dimensão de Spartacus, o gladiador que ainda hoje é um dos ícones dos revolucionários de todo o Mundo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Notas Gastrológicas II

Cidade de Mirandela1E da luta nasceu a alheira, a suprema maravilha gastrológica…Cidade de Mirandela Mapa

O espectáculo que decorreu na passada 6ª feira na cidade de Santarém para proclamar as 7 maravilhas gastrológicas de Portugal, teve um resultado inesperado. Os portugueses e portuguesas foram convocados para votar num conjunto de iguarias que eles reputavam ser dignas de figurar num conjunto de 7. A escolha não era aleatória, mas tinha de ser feita na base de 21 iguarias, espartilhadas em 7 categorias.

E quando foi anunciado o resultado final verificou-se que a entrada escolhida era a humilde alheira de Mirandela. Mais, soube-se depois que tinha sido a iguaria mais votada, tornando-se assim a suprema maravilha gastrológica deste infeliz país. Mas afinal que especialidade é esta?DSC_0017

No tempo da Inquisição os judeus tornados cristãos novos à força, fugiram para Trás-os-Montes aonde tinham que provar que eram bons cristãos, comendo enchidos, que naquele tempo continham porco. Mas eles criaram um enchido novo, a alheira, que não continha porco, embora parecesse que sim. Continha carnes permitidas pelo Judaísmo, mas não porco, e tinha um sabor divinal. Muito tempo depois os verdadeiros cristãos começaram a fazer alheiras, mas estas com carne de porco. E assim se desenvolveu uma iguaria.

Alheiras há-as por todo o Trás-os-Montes e Alto Douro mas as de Mirandela são as que mais contam. A questão é ter um porco que se mata e depois utilizam-se as carnes e fazem-se as alheiras. Claro que é preciso muito mais do que isto: ´é preciso a ancestralidade de muitas gerações aonde as alheiras ajudaram a matar muita fome, uma dura realidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.DSC_0017a

E foi com este património secular que a Câmara Municipal de Mirandela mobilizou interesses vários nas humildes alheiras. Longe vão os tempos em que as alheiras eram simplesmente artesanais, produto duma actividade familiar: hoje são uma poderosa industria que procura manter um sabor artesanal. Todos se mobilizaram. O objectivo era pôr Mirandela e Trás-os-Montes no mapa. E conseguiu-se.

Quando os resultados finais foram anunciados Mirandela, a Princesa do Tua, irradiava no mapa. Homens e mulheres que acreditaram tinham feito um milagre: aliás tinham-se superado, pois não só tinham atingido o objectivo de fazer da alheira uma maravilha gastrológica, mas essa maravilha tinha sido considerada a suprema entre elas. Como diria D. Nuno Álvares Pereira metera-se uma lança em África.

E assim a alheira é, nunca é de mais repeti-lo, a suprema maravilha. As outras são muito interessantes, umas incontroversas, outras nem tanto. E assim recordaremos uma noite que pôs definitivamente no mapa Trás-os-Montes e Alto Douro, a centralidade periférica que temos de construir com urgência, se não dentro de 100 anos Trás-os-Montes e Alto Douro não existe.

domingo, 11 de setembro de 2011

Reflexões Estratégicas Domésticas VII

p23foto3AVANTE 2011: A Festa e a Luta que se perfila

Na tarde de sexta feira dia 2 de Setembro começou a realização na Quinta da Atalaia no Seixal da que é a maior romaria laica em Portugal: A Festa do Avante 2011. Trata-se duma grande manifestação da força militante do colectivo partidário que é o Partido Comunista Português, e uma afirmação da nossa vontade em garantir que o povo português possa exercer o seu direito a protestar contra as medidas do actual Governo. Este não só aplica as medidas da Troika de espoliação das conquistas dos trabalhadores, consequência da Revolução de Abril, para garantir o bem estar dos grandes interesses financeiros.

Portugal e o(a)s portuguese(a)s encontram-se num dos momentos mais difíceis da sua História como consequência de através de eleições terem entronizado um Governo que se propôs defender, não os interesses dos cidadãos deste país, mas os interesses do grande capital financeiro internacional. Na verdade anteriores governos decidiram contrariamente aos nossos interesses: a destruição do aparelho produtivo em todas as frentes, e a aceitação de pagamentos aos produtores para não produzir, indo atrás das mirificas propostas de desenvolvimento duma economia terciária e do conhecimento, nunca realizada; uma divida externa que não parou de crescer pois as importações e.g. de produtos alimentares antes deficitárias aumentaram dramaticamente; favorecimentos aos grandes interesses económicos com a criação de parcerias público-privadas ruinosas e infestação do aparelho de Estado por elementos do partido no poder com funções mais que discutíveis e que se duplicavam entre si. Perante o descalabro das contas públicas que estas medidas geraram, o grande capital financeiro internacional exigiu que as dividas fossem pagas e tudo isso à custa da pauperização dos cidadãos, visto que a via escolhida é uma via financeira e não um via de desenvolvimento económico, reforço da produção, pondo Portugal a produzir.IMG_0054 (1)

Para atingir estes objectivos o Governo em funções seguindo na peugada do Governo dito Socialista que o precedeu, iniciou um dos maiores ataques de que há memória aos bolsos dos trabalhadores de que há memória, quer os do activo, quer os reformados. É uma espoliação sem precedentes começada pelo Governo de José Sócrates com o corte de 10% dos salários da função pública e continuado pelo Governo de coligação com o roubo de metade do subsídio de Natal, seguido pelo agravamento do IVA para o Gás e a Electricidade, a degradação e agravamento dos pagamentos para utilização de serviços públicos.

Estas medidas resultam do acorde de subserviência às políticas impostas pelo Fundo Monetário Internacional, União Europeia e Banco Central Europeu, a famigerada TROIKA externa. O desplante destes senhores não tem limites: antes obrigaram o Governo da Altura a aceitar a destruição da economia produtiva; hoje depois de nos terem emprestado dinheiro à tripa-forra, declaram que não temos sistema produtivo que permita pagar o que devemos, e obrigam-nos a vender em Hasta pública internacional os nossos bens. E a TROIKA interna, PPD/PSD, PS e CDS aceitam tudo de boa mente.

abertura_festa_avante_2011_jsComo não actua pelo lado da Economia o Governo não entende que tais medidas têm consequências recessivas. De facto ao espoliar estratos intermédios da população com um maior poder de compra, este é reduzido e agrava-se a situação de crise de superprodução e aumentando ipso facto o desemprego, pois no sector produtivo não havendo quem compre não é necessário produzir mais, e no sectores dos serviços se ninguém os comprar é impossível pagar salários. Aumenta assim a miséria, a a que o Governo de Direita responde  com um assistencialismo  boçal, retirando a cidadania aos trabalhadores, e.g. os de mais baixa condição, e reduzindo-os a dependentes dos que se dedicam à caridade pública.p06foto4

Nesta perspectiva compete aos trabalhadores lutar contra este estado de coisas e exigir a ser respeitado o seu direito à cidadania, que contém o direito a um salário decente para afirmação da sua independência face ao poder económico, a prestações sociais adequadas, e o direito à saúde, à Educação e à segurança Social, e.g. o direito a uma reforma digna. E é isto que os Sindicatos de classe já prepararam para 1 de Outubro, sendo necessário mobilizar, mobilizar, mobilizar, contrariando alguma eventual descrença que se instale no seio dos trabalhadores.

E foi na altura em que é necessário programar o caos que temos a Festa do Avante!. É uma festa cultural e política. A Grande Gala de Ópera, entre outras realizações culturais, mostrou que o Palco 25 de Abril é já hoje uma referência incontornável da música erudita em Portugal, e que desfaz uma ideia feita de que o pessoal não se mobiliza em grande número para estas realizações. A grande Ópera foi sempre considerada algo de só acessível por minorias: mas os milhares de presentes no espectáculo da noite de 2 de Setembro na Atalaia estavam realmente apaixonados e vibraram em uníssono com os interpretes.

p24foto2Mas o lado político foi determinante. A Festa foi como de costume inaugurada pelo camarada Jerónimo de Sousa que no seu discurso reforçou a ideia que esta Festa era um espaço para garantir o debate e o reforço da nossa capacidade de luta, através de debates específicos e claramente direccionados. E foi encerrada também por Jerónimo de Sousa que depois duma brilhante análise da situação que vivemos, apelou à mobilização e a luta para ultrapassarmos esta situação grave que estamos a viver. Pelo meio tivemos debates e exposições sobre os centenários dos escritores camaradas Alves Redol e Manuel da Fonseca, sobre oos 140 anos da Comuna de Paris e um debate sobre a situação grave que se vive na Eslováquia aonde se pretende criminalizar o Comunismo.

E assim a Festa cumpriu todos os seus objectivos, lúdicos e políticos, reforçando a ligação entre todos os que lá foram. Para o Ano há mais, e se não morrermos antes, lá estaremos!!!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Acontecimentos Políticos Hilariantes VII

Objectivo: Riqueza Solidária???

352983 11109_01Os portugueses e as portuguesas têm que aturar um Governo que infelizmente escolheram, pensando que ele lhes iria resolver os problemas, ao contrário do que sucedia ao Governo do desalmado Sócrates. Porém têm de reconhecer que este Governo ao enredar-se na mentira ideológica começa a ter umas saídas algo hilariantes.

Foi o caso do anuncio das novas medidas fiscais para combater a Crise provocado pela grande especulação e a economia de casino, a mando da famigerada Troika, que nos transformou num protectorado europeu. Depois de espoliar a a classe média dos seus rendimentos por via fiscal envolvendo o 13º mês, aumentado o IVA para o Gás e a electricidade como se não fossem produtos de 1ª necessidade, aumentado os passes sociais, e introduzido medidas assistencialistas para os cidadãos de mais baixos rendimentos, criando cidadãos de primeira e de segunda, o Governo vem agora criar “impostos solidários” para os rendimentos mais altos e para os rendimentos das emMinistro das Finanças02 11109_01presas de mais elevados lucros. E com uma grande ”lata” vem dizer que se trata de uma contribuição solidária para cobrir a política assistencialista do Governo. Não fora a trágica situação em que se encontram os cidadãos e cidadãs deste país por via das suas decisões desmioladas do último acto eleitoral, e tudo isto seria muito hilariante.

Na verdade a tragédia não tem graça nenhuma e compele todos a deixarem-se da ideia triste de que não há saídas, que a política de direita pura e dura é uma inevitável fatalidade, e lutarem sem rebuço pelos seus direitos de cidadania tão miseravelmente espoliados. As medidas para corrigir os desmandos da governação de direita do Partido Socialista passam pelo reforço da cidadania, por obrigar os mais poderosos a respeitarem os direitos dos mais humildes, aumentar a produção, remunerá-la adequadamente, e não criar falsas ideias de solidariedade. Como se sabe há muitas luas, a solidariedade existe sim entre pessoas da mesma condição, e nunca entre os exploradores e os explorados. Os próceres do grande capital financeiro tiveram um comportamento nada solidário quando embarcaram em esquemas de produção financeira de lucros, partindo do principio de que se algo corresse mal, seriam salvos pela espoliação dos mais fracos. O Capitalismo monopolista é célebre em privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Estamos a assistir a um processo deslizante, em que o Capitalismo pretende esmagar a Democracia. Uma coisa que os exploradores e os seus lacaios gostam muito pouco de ouvir, mas que nós temos de lhes gritar até lhes estoirar os órgãos de audição.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Editorial I

O Regresso

2000px-Communist_star.svgEstávamos no ano de 1982, exactamente no dia 1 de Setembro, e eram 6 horas da tarde. Bati à porta do Hotel Victória, não muito longe do sítio aonde morava. Um camarada veio abrir, olhou para mim e eu comuniquei-lhe que me vinha filiar no Partido Comunista Português. Ele foi chamar uma camarada que apareceu de ficha de filiação em riste, e fui convidado a fornecer os dados que permitiam preenchê-la. Tendo terminado este tarefa, comunicou-me então que a questão iria ser apreciada e que seria contactado por um outro camarada para me integrar no colectivo partidário. Eu disse-lhe que esta minha decisão iria espantar muita gente, pois eu era conhecido como militante da União Democrática Popular, e tinha subscrito a sua formação. Nessa noite fui jantar com o Fernando Cabrita, um camarada e já um irmão, hoje com 50 anos de amizade, e comuniquei-lhe que me tinha filiado no PCP. Ele ficou muito contente. E passados duas semanas já fazia parte do grande colectivo que é o PCP.

Passados 29 anos as razões que me levaram a filiar no PCP são mais actuais do que em qualquer outro tempo anterior. Na verdade entre Agosto de 1979 e Agosto de 1982 fui membro do Corpo Académico do Departamento de Astronomia da Universidade de Manchester, Inglaterra, e era um militante da UDP muito desiludido com a actividade desta. Passei então a monitorizar a actividade do PCP à distância, e rapidamente concluí que só o PCP respondia de forma permanente e consistente às exigências da luta contra a política de Direita daquele tempo. Decidi então que como comunista assumido nada tinha a fazer na UDP, e daí decidi filiar-me no PCP assim que tivesse cumprido o meu contracto com a Universidade de Manchester e regressado a Portugal.
Passaram 29 anos, uma vida. E tendo permanecido fiel aos princípios do Marxismo-Leninismo e à justa luta da Classe Operária e de todos os trabalhadores, permaneço no PCP. Já vi muitos desistir, outros sair e bandear-se com os interesses dominantes. Eu fiquei como muitos outros que nunca traíram. E é este grande colectivo de projecto e proposta, com uma estratégia intransigente, que hoje está em melhores condições de lutar contra a política de Direita que hoje conspira para nos reduzir a todos à miséria, substituindo o direito à cidadania pela caridade pública assistencialista, para reforçar o domínio e a subserviência dos mais pobres pelos que tudo têm, para que uns quantos continuem a ter privilégios inaceitáveis e em vez de governar a res publica de todos ao serviço de todos, governam como se tudo lhes pertencesse, incluindo a nossa dignidade cidadã.
Festa do Avante ORP 2011Este blogspot, Cosmosophia Portucalensis, foi criado para ajudar à luta contra todas as formas de exploração. Em 30 de Julho a ultima Carta Escocesa dizia que voltaríamos mais tarde. Passaram dois anos e só agora estamos capazes de garantir um regresso sustentado, porque a vida nem sempre é fácil e muitos problemas pessoais o impediram. Mas a gravidade da situação política, interna e externa, obriga-nos a reactivar este espaço.
Para já concentremo-nos na Festa do Avante, na Atalaia, de 2 a 4 de Setembro. É forçoso que compareçamos nela, compremos a EP e assim contribuamos para reforçar o PCP e a sua disposição de luta. Na verdade não há festa como esta, porque lá é a cidade do Socialismo que o grande colectivo partidário comunista e português simula todos os anos; porque lá podemos equacionar as lutas necessárias a que estamos obrigados no futuro próximo; porque lá podemos confraternizar uns com os outros, trocarmos experiências de luta, reforçar o espírito de cooperação colectiva face ao espírito de competição individualista, e sonharmos o futuro que mais tarde ou mais cedo havemos de construir.
Entretanto estaremos atentos aos próximos desenvolvimentos da actividade política dos que pretendem salvar o Capitalismo à nossa custa, e prepararmo-nos para a luta consequente!!!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cartas Escocesas (XIV)

O adeus à Escócia

Está prestes a terminar o período de Licença Sabática aqui na Escócia. Foi um período de onze meses muito rico tanto na esfera científica como na esfera politica.

O Mundo protagonizou uma crise económico-financeira sem paralelo nos tempos modernos que colocou em causa a capacidade do Sistema Capitalista ter capacidade para continuar o seu trajecto de dominação e exploração globais. Porem devido à incapacidade manifesta das massas populares de organizadamente lhe fazerem frente à escala planetária, conseguiu recuperar à custa de injecções financeiras sem paralelo nos tempos passados próximos.

Em termos europeus pretende-se que os eleitores votem numa organização política que lhes nega o elementar direito de votar em referendo sobre as bases gerais da sua estrutura, e que quando os eleitores dizem não, como na Irlanda, são insultados e coagidos a reverem as suas posições.

No plano português as Eleições Europeias mostraram que existe um largo sector que está desiludido; e em consequência por outro lado um número cada vez maior de eleitores vota à Esquerda abrindo as melhores perspectivas para retirar do Governo uma camarilha que se afirma socialista, e vai fazendo todos os fretes ao grande patronato, penalizando os trabalhadores.

Enquanto estes factos foram tendo lugar fui cumprindo aqui as minhas obrigações profissionais, escrevendo artigos científicos, e procurando expandir a teoria da radiação de pulsares, estrelas de neutrões em rotação rápida. Conseguimos fazer três quase concluídos.

O desenvolvimento do trabalho obrigou-me a desguarnecer o blogue. Assim não pude comentar como gostaria a grande manifestação da CDU que tão importante foi para dar confiança ao pessoal e votar à Esquerda. Não falei sobre Soeiro Pereira Gomes, um intelectual operário e um dos comunistas portugueses de referência. E com certeza muitas outras coisas como por exemplo a politica internacional dos USA-Obama, ou a súbita falta de todos esses instrumentos jurídicos que se dizia iriam ser postos no lugar para evitar que outras crises se repitam; ou ainda a falta de vergonha dos deputados britânicos que apresentavam contas sumptuárias, algumas falsas, para que o Parlamento lhes desse dotações extra.

Foi uma excelente visão da evolução do Capitalismo nesta sua fase imperialista bem agressiva, aliás no seguimento do pensamento de Marx que dizia que Londres era uma excelente janela para sabermos o que se passa no mundo. Com as novas tecnologias, qualquer grande cidade do Reino Unido é hoje uma excelente janela sobre o mundo.

Termino estas crónicas com uma referência à Escócia. Com a Devolução a sociedade Escocesa começou um processo de autodeterminação, que se manifesta entre outras coisas, num estudo aprofundado da sua História. Existe uma forte corrente que pretende ir mais longe e quer a independência. Com o conhecimento que temos destas duas grande nações, a Escócia e a Inglaterra, parece-nos que para o bem e para o mal deverão permanecer unidas, pois a união é uma das maiores forças que ambas têm para se afirmar no Mundo. É nossa convicção por outro lado que a presença da Escócia no Reino Unido, é um factor de coesão da Inglaterra. Parece-nos isso sim que o Reino Unido deveria ter uma Constituição Federal reconhecendo que Inglaterra, Escócia e País de Gales são de facto três nações, e criar os instrumentos de articulação política entre si, que as projectasse em conjunto no mundo, exprimindo a sua diversidade.

E até Portugal.