sexta-feira, 20 de junho de 2008

Reflexões Estratégicas Domésticas (I)




E o Campeonato foi-se à vela!!!

Criaram-se grandes expectativas com o Europeu 2008. O povão mobilizou-se. A equipa valia milhões, afirmou-se. Continha no seu interior o maior jogador do “coicebol” contemporâneo (como chamava ao futebol Vaz Guedes, o hoquista campeão do mundo, que foi nosso professor de ginástica nos idos de 1964-65 no Liceu Nacional de Gil Vicente, quando queríamos jogar este desporto planetário). Mas depois o sonho esboroou-se. A Alemanha depois de ter ouvido o seu Hino Imperial derrotou a nossa Grande Selecção por 3-1 sem apelo. Os portugueses tinham mais uma desilusão.
Mas tudo não passa dum jogo de espelhos. Um povo definitivamente dividido entre 10 milhões de almas no solo pátrio e 4 milhões de almas forçadas a espalhar-se pelos quatro cantos do mundo para poder ter uma vida digna, tem poucos argumentos para mostrar a sua força, para além do seu apoio à sua Selecção, que é maioritariamente o espelho da divisão de si próprio como povo. Na verdade a maioria dos jogadores são emigrantes de luxo pagos a peso de ouro, pois mais ninguém é capaz de dominar a bola como eles, e em consequência criar paixões doentias. São verdadeiros malabaristas dessa coisa obscena a que alguns chamam desporto, mas que não passa de facto de um enorme espectáculo e de um dos maiores negócios contemporâneos, uma das pedras angulares da estupidificação colectiva.
Acabadas as grandes expectativas, o povo português vai agora ter de se confrontar sem quaisquer desvios com a gravíssima situação económica, social, política e cultural em que se encontra envolvido. Na verdade a burguesia nacional portuguesa largamente clientelar do imperialismo, não tem pejo, para manter os seus privilégios de degradar cada vez mais as condições de vida dos trabalhadores portugueses, pretendendo impor-lhes o Código do Trabalho. Este, a ser aprovado:

  • Consagraria ritmos de trabalho e de exploração, semelhantes aos primórdios da Grande Revolução Industrial;
  • Imporia a diminuição dos salários, com a redução neste do peso das horas extraordinárias, que ficariam à mercê do interesse dos patrões incluindo o próprio Estado, o maior violador de todas as normas laborais;
  • Submeteria os trabalhadores ao perigo de terem sempre sobre as suas cabeças a espada de Dâmocles dos despedimentos sem justa causa, que permitiria isentar os patrões de qualquer responsabilidade na contratação dos trabalhadores e do seu direito ao trabalho, como o exige a Constituição da República Portuguesa;
  • Implicaria que os trabalhadores nunca mais teriam direito a ter uma vida própria e familiar autónomas, mas estas realidades passariam a estar subordinada à gula do patronato, e às exigências da produção contínua, para aumentar as taxas de lucro.

A mesma burguesia nacional que depois de ter destruído todos os meios de ter uma produção estratégica autónoma de bens alimentares e outros, vem agora lamentar-se (coitadinha!!!) de ter sacrificado os direitos de todos nós no altar das exigências do grande capital transnacional, para poder ascender ao Olimpo da Comunidade Económica, que virou mais tarde União Europeia, e em consequência termos de pagar caro todos os desmandos que os grandes interesses transnacionais nos impuseram para limitar a nossa produção.
Em 1782 quando estava no seu leito de morte, exilado nos seus domínios de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, o injustiçado Marquês, o maior estadista europeu do Século XVIII, profundamente preocupado com o evoluir da coisa publica que uma rainha beata, cruel e vingativa impusera, ao aproximar-se a morte perdeu a consciência, variou e começou a gritar: — Portugal, à vela, à vela!!! Ele ainda não tinha visto o que um político medíocre, travestido em primeiro ministro, Socrates de seu nome, subordinado aos interesses do grande capital nacional e transnacional, violando todos os compromissos eleitorais, era capaz de fazer aos que nele confiando, o elegeram.
Por tudo isto devemos ultrapassar este interlúdio da Selecção, uma questão artificial induzida pelos grandes interesses económicos, e prepararmo-nos para, na luta, afirmarmos a existência e a dignidade do Povo Português. Afinal não é a Selecção que se foi à vela, mas seremos nós todos que iremos, seguindo a análise do grande Marquês de Pombal, e nos afundaremos sem remissão.

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