terça-feira, 12 de agosto de 2008

Socialismo em Desenvolvimento (I)


Bolívia: quando a História mudou de direcção

A vitória do Presidente Evo Morales com 63 por cento dos votos no referendo revogatório de Domingo na Bolívia, constitui um acontecimento da maior importância para o desenvolvimento do Socialismo na América Latina e no Mundo. Trata-se de um daqueles acontecimentos que enchem de alegria todos o que pretendem que o Mundo passe a ser uma terra sem amos.

O esforço refundador de Evo Morales inscreve-se na luta dos povos da América Latina para se libertarem do jugo do imperialismo e dos seus lacaios os oligarcas locais, luta cujo sucesso há muito que se sabe constituir más notícias para o domínio do imperialismo, e.g. norte-americano. No caso concreto da Bolívia os lacais do Imperialismo encararam com má cara a vitória eleitoral do companheiro Evo Morales para a presidência da Bolívia. Refugiaram-se assim nas prefeituras locais em que se divide o país, e como bons caciques conseguiram arregimentar uma classe média sem princípios. E quando Evo Morales e a sua equipa pretenderam que os benefícios resultantes do comercio das matérias-primas fossem estendidos a todo o povo, e não só para as regiões aonde se extraem, os caciques desafiaram o governo central exigindo ficar com tudo só para eles.

O desafio assumiu uma vertente constitucional intensa. Procederam-se a referendos secessionistas locais, e naturalmente constitucionalmente inválidos, ganhos pelos caciques. Perante esta situação e com grande determinação Evo Morales convocou o referendo revogatório em que se não tivesse a votação que obteve quando foi eleito, 53,4%, se demitiria, o mesmo sucedendo aos caciques locais se perdessem. Evo Morales sabia que a sua derrota seria um gravíssimo retrocesso para a afirmação do Socialismo na América Latina, mas pretendeu que duma vez por todas as questões ficassem esclarecidas. Era preciso pôr cobro, numa penada, ao domínio da oligarquia de quase de dois séculos, pois ele existe desde a independência há mais de 183 anos.

O resultado não podia ter sido mais esclarecedor. Embora algumas prefeituras tenham tido resultados assustadores (caso de: Santa Cruz de La Sierra, com 64% de nãos e 36 % de sins; Chuquisaca, com 57.9% de Nãos e 42.1% de sins), a votação global foi de 63% de sins o que é superior à investidura do Presidente Evo Morales, que assim atingiu completamente o seu objectivo, e partido a História ao meio: o futuro não será mais como o passado.

As centrais de informação do capitalismo ao darem-se conta da estrondosa derrota encontraram depressa a solução para tentar conter o pânico da classe dominante que se vê obrigada a dobrar a espinha perante o povo: o referendo seria uma espécie de empate técnico (!!!) pois das nove prefeituras Morales ganhara apenas(!) 5, e perdera em 4. Ou seja apesar de ter ganho por uma maioria de quase 2/3, Evo Morales teria agora de ir ainda assim negociar com a oligarquia. Isto é eloquente. É como no caso irlandês, os resultados só são bons quando se segue a lógica do imperialismo; caso contrário inventa-se sempre uma nova lógica para salvar a face… e os interesses de rapina…

Claro que não há nada para negociar e agora espera-se que os prefeitos que perderam se demitam como estava acordado. Não há a garantia que o façam. E naturalmente terão de ser corridos. Mas isso é natural de quem só tem dignidade para ser lacaio. Entretanto Evo Morales prepara-se para levar às últimas consequências o seu programa, na sua justa luta contra o neo-liberalismo imperialista que pretende perpetuar o domínio oligárquico que o serve.

A luta de Evo Morales é afinal a luta pela dignidade dos povos Latino-Americanos conduzida hoje por ele, Hugo Chaves, Daniel Ortega e outros, tendo por referência Simão Bolívar, José Marti, Fidel Castro, e o exemplo heróico do povo cubano que há quase 50 anos não se verga ao imperialismo. Na verdade isto só é possível graças a esse momento fundador, a entrada em 1959 do Exercito de Libertação Nacional de Cuba em Havana, que indicou o caminho a todos o que pretendiam libertar-se do jugo imperialista. Estas são as nossas balizas e delas jamais nos esqueceremos.

Sem comentários: