sexta-feira, 12 de setembro de 2008

"Fait-Divers" Políticos (II)

…E aos costumes disse nada…

Esta Secção “Fait-Divers Políticos” acaba de ficar mais enriquecida com os extraordinários acontecimentos da última convenção republicana americana. Nela o senador John McCain anunciou urbi et orbi que a sua candidata à Vice-presidência dos Estados Unidos da América seria a Governadora do Estado do Alasca, Sarah Palin.

De acordo com a Constituição dos USA o Presidente tem de ter a acompanhá-lo sempre o Vice-Presidente. Este é a segunda figura do Estado, e preside ao Senado, que é uma das câmaras do Congresso dos USA, e a mais importante, pois é a que garante a paridade entre os 50 Estados da União. Se o Presidente morrer ou ficar incapacitado para o cargo, ou for impugnado, isto é, julgado e condenado pelo Senado, então o Vice-Presidente imediatamente assume a Presidência. Daqui resulta que o Vice-Presidente dos USA não é uma figura decorativa como alguns julgam, mas tem funções importantes, e a sua escolha tem de ser cuidada, não podendo ser seleccionada qualquer pessoa.

John McCain ao escolher Sarah Palin seleccionou uma antiga rainha de beleza, cujo único mérito foi ter subido a pulso os ínvios caminhos da política. A mulher não faz qualquer ideia da importância dos dossiers que vai ter de ler e tomar decisões. E foi escolhida por razões que nada têm de nobre: os de ser tão bela quanto reaccionária. Na verdade Sarah Palin é uma representante da Direita Cristã evangélica, que é um grupo de fundamentalistas cristãos. Estes têm como principal ponto da sua agenda política a difusão entres os americanos da ideia extraordinária que o mundo foi criado por Deus preferencialmente em 7 (sete) dias. Sem qualquer fundamento teológico, ou melhor com raciocínios que ofendem a Teologia, a Direita Cristã está convencida que Deus corresponde às suas delirantes e sacrílegas descrições, e que a Sua agenda é a deles. Daqui partem para uma cruzada que pretende eliminar a teoria da evolução de Darwin das escolas, com terríveis consequências para a literacia científica dos cidadãos. Por outro lado Sarah Palin está de total acordo com o movimento contra a interrupção voluntária da gravidez, um ponto sagrado da agenda da Direita Cristã. O facto de ser muito elegante e bem apessoada corresponde ao esforço para iludir os votantes americanos, pois que se pretende transmitir a ideia de que uma pessoa tão bela não pode ser perigosa.

No fim de contas o aparecimento de Sarah Palin traduz bem as profundas confusões que fazem a cabeça dos responsáveis políticos norte-americanos. Para o chefe da campanha de McCain é completamente inócuo se Palin sabe ou não o que anda a fazer. As eleições segundo este grande (ir)responsável, nada têm a ver com a discussão de programas políticos: é uma questão de mística pessoal, potenciada pelo eventual excelente aspecto dos candidatos. Só assim se compreende que ao ser vista à lupa a candidata ao mesmo tempo que era elogiada a sua beleza, tivesse que responder não acerca da suas plataformas e da sua adequação à satisfação da crise social e política existente, mas sim questões pessoais, como o de saber se tinha havido relações extra-conjugais suas com um amigo do marido após a comemoração dum êxito comercial de ambos, ou o facto da sua filha de 17 anos estar grávida fora do casamento.

Mas nada disto é surpreendente. Na verdade nestas eleições muito tem sido prometido que exprimido tem dado muito pouco sumo, ou seja fala-se muito mas não se diz o que quer que seja. Mas aqueles que estão empenhados na racionalização do Sistema, ficam estarrecidos só em pensar o que aconteceria se John McCain morresse de repente, e Sarah Palin tivesse de tomar as rédeas do comando. Talvez nessa altura o establishment norte-americano tivesse de fazer o mesmo que no tempo do Nixon, quando este tinha que se ir embora por causa de Watergate, e o Vice-Presidente Spiro Agnew que o teria de substituir tinha ligações claras com a Máfia. Substituiu-se primeiro o Vice-presidente Spiro Agnew por Gerald Ford, depois caiu o Presidente Nixon, Gerald Ford foi entronizado como Presidente, e criado um novo Vice-Presidente.

Como é evidente nada temos com isto, mas vale a pena mantermo-nos atentos ao profundo resvalar dum sistema agonizante num país aonde o Imperialismo domina de forma mais agressiva. De facto fazer repousar opções políticas muito importantes sobre a escolha da interrupção voluntária da gravidez, só lembraria ao Imperialismo americano...


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