quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Reflexões Estratégicas Domésticas (III)

Quando os apólogos disparatam…

Constança Cunha e Sá resolveu fazer palpitantes afirmações no seu jornal de sempre (Público, 18 Dezembro 2008) manifestando a sua perplexidade pela anunciada e inusitada subida do PCP. Segundo ela, isso é tanto mais estranho quanto o PCP:

·         É uma aberração ideológica, e, porque visto como tal, foi durante muito tempo um partido ignorado, incapaz de contribuir para um debate sério sobre o desenvolvimento do país;

·         É um Partido envelhecido, e porque desprovido de quadros e sem intelectuais ao dispor, parecia ter os dias contados: pois era uma espécie de relíquia histórica que mais tarde ou mais cedo acabaria por desaparecer, levado pela inflexibilidade de uma ortodoxia que se recusava a evoluir;

·         É um partido quiçá maquiavélico, pois com Jerónimo de Sousa os comunistas deixaram-se de evasivas ideológicas e, recuando no tempo, recuperaram acriticamente as suas teses do passado, reduzindo o debate ideológico aos problemas concretos dos portugueses, esquecendo outras questões de grande sumo teórico como o implosão da antiga União Soviética, a saúde, pensamento e actividade política de Fidel Castro, e grandes questões doutrinais que envolveram a queda do Muro e o futuro do socialismo;

·         Tem um projecto apresentado sem viabilidade, e sem qualquer tipo de alternativa, e cuja força ultrapassa um modelo de desenvolvimento que nem sequer existe.

As afirmações de Constança Cunha e Sá são a manifestação do pavor que a subida do PCP está a criar na sociedade portuguesa, entre os sectores que vêem com desespero a total ausência de soluções para a crise estrutural que a burguesia imperialista criou, e que promete arrastar consigo todos os seus clientes e lacaios nos vários países do mundo. De forma ingénua Constança Cunha e Sá vem-nos dizer que o sistemático silenciar do PCP foi um acto miserável e deliberado, por não contribuir para simplesmente melhorar o Sistema e nunca o por em causa, como os apóstolos do capitalismo entendem que deve ser feito.

Na verdade quem é que disse a Constança Cunha e Sá que o PCP é uma aberração ideológica e uma relíquia histórica, quando a classe operária continua a existir e a manter todo o seu vigor de transformação histórica, constituindo de facto, e cada vez mais, o último reduto de esperança de constituição de uma sociedade onde não sejamos explorados? Quem lhe disse que é um Partido envelhecido e sem meios humanos para levar a cabo as suas propostas? Quem lhe disse que não evoluímos todos os dias? E já agora se estamos assim tão intelectualmente ossificados, com um projecto sem viabilidade e que não configura qualquer tipo de alternativa, como é que continuamos a produzir propostas que as pessoas sentem como essenciais e que gostariam que levássemos a cabo?

Constança Cunha e Sá não passa afinal dum dos muitos elementos que neste momento de crise pretendem negar que a luta de classes existe, para que a racionalização do Sistema capitalista se faça sem o pôr em causa, e ultrapassar os seus limites. Daí que não se importe de cair em afirmações que são ofensivas, pensando que exibindo uma autoridade intelectual que ninguém lhe reconhece, e juntando-lhes meia dúzia de insultos, os camaradas vão arrepiar caminho, e abandonar a luta a que se propuseram. Mas isso é um sonho vão de quem pretende prosseguir com um Sistema que provoca dor a todos o que o sofrem. Que o digam todas as centenas de milhares de trabalhadores que com as actuais reorganizações de mercado vão ficar no desemprego, e sem salários para se alimentarem a si próprios e àas suas famílias.

Ainda que Constança Cunha e Sá não goste, a racionalização do Sistema tem de ser conduzida pelos trabalhadores e pelo respeito pelos interesses dos próprios, visando a prazo o verdadeiro Socialismo e progressiva extinção da sociedade de classes. E é isto a que os autênticos comunistas se propõem desde que Marx e Engels o equacionaram. E é isso que cumpriremos, ainda que não estejamos sintonizados com a modernidade que Constança Cunha e Sá gostaria que exibíssemos.


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