sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Sonhos Olímpicos (III)

Do Sucesso de Pequim 2008, às Dúvidas de Londres 2012

Chegou o momento de encerrar o Dossier Jogos Olímpicos de Pequim. Terminados já há cerca de duas semanas foram tão ricos culturalmente que ainda não se esfumou dos nossos olhos a extraordinária beleza das duas cerimónias, a de Abertura e a de Encerramento. Outra questão importante é comentar a actuação da representação nacional em Pequim e que esperanças para 2012. E que perspectivas para a realização dos Jogos em Inglaterra em 2012, quando este país está à beira duma crise económica sem precedentes.

Os Jogos em 2012 foram totalmente ganhos pela China, não só em termos de medalhas de ouro, mas também da satisfação dos objectivos políticos colocados: conseguir dar uma ideia de modernidade da China, da sua comprometida abertura ao mundo e da sua empenhada vontade em dialogar com todos os povos, nações e sistemas políticos. Não foram poupados meios financeiros e não faltaram vozes que afirmaram tal extravagância só ser possível num país totalitário, perfeitamente ao arrepio dos problemas económico-financeiros que hoje consomem o mundo.

Porém estamos na presença de desculpas de mau pagador. Os Jogos mostraram um empenhamento nacional, altamente exigente, e as acções de massas associadas foram conduzidas no respeito pelas aspirações dos povos, no desejo de paz universal, e são benéficas para o entrosamento do tecido social. As acções de massas só são negativas se os povos forem manipulados e conduzidos a práticas agressivas, e contrárias aos seus interesses mais profundos, como aconteceu nos jogos de Berlim em 1936. A China pós-Jogos é um país mais unido, e mais capaz de enfrentar os desafios do futuro.


Os Jogos mostraram também a insuficiente preparação da delegação portuguesa para participar nesta arena internacional. Já aqui se afirmou que para ganhar medalhas é preciso trabalho humildade e muito carácter. Mas é também necessário investir muito mais do que se tem feito no desporto. Não é possível ter um escol atlético se não houver uma estrutura de base para suportar este esforço. Aonde anda o desporto escolar? Que apoios tem o movimento associativo em termos de prática desportiva? Que entrosamento existe entre um e outro? Só pode haver uma prática desportiva adequada a produzir atletas excepcionais se houver uma íntima ligação com o trabalho cultural.
Na minha intervenção na Conferência Nacional do PCP sobre o Poder Local em Corroios, 17 de Maio de 2003, afirmei:

A quarta questão tem a ver com o exercício do Poder Local. Que relação íntima entre actividade cultural, actividade desportiva, actividade de juventude e actividade educativa existente e que deveria existir? Que actividade cultural em associações desportivas? Que desporto amador a nível das autarquias na sua tripla vertente lúdica, formativa e competição fraterna? E ainda qual a relação que o Poder Local, se alguma, deverá manter com o Desporto Profissional? E finalmente qual a articulação no espaço das autarquias entre o Desporto Amador e o Desporto Escolar?

Estas questões nunca foram satisfatoriamente respondidas pelo poder dominante, a situação está cada vez pior em termos de desporto de massas, e depois vem-se chorar os 40 milhões de euros que se gastaram ao longo de quatro anos. Isto não é compreensível, pois que ainda que não seja essa a nossa perspectiva, mesmo em termos puramente comerciais só Nelson Évora vale comercialmente 15 milhões de euros por ano. Só Nelson Évora pagou tudo e deu lucro… E não é compreensível de facto porque nunca se fez uma estimativa justa para estabelecer quanto efectivamente custa desenvolver uma estrutura desportiva capaz de articular todas as suas componentes, e que obedeça a exigências mínimas de qualidade de vida das populações e susceptível de gerar futuros campeões.

Portanto iremos a Londres 2012 repetir as asneiras habituais, e então voltar-se-á a chorar o leite derramado. Olimpíadas essas que correm o risco de serem um flop devido ao estado caótico da economia e finanças do Reino Unido, à beira do colapso. Mas tudo enfim se explicará. O Reino Unido é uma Democracia, e portanto não tem que ter os furores “totalitários” da China. E assim tudo ficará mais uma vez na santa Paz de Deus Pai Todo Poderoso, se cheios de ilusões continuarmos a aceitar todos os disparates que o imperialismo e a Burguesia nos quiser meter pelos olhos dentro.

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