quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ventos de Guerra (II)

Gaza: A Tragédia

Encontrávamo-nos todos na paz do Senhor a gozar as férias do Natal de Cristo, quando aqueles que se afirmam o Povo Eleito de Deus, iniciaram o mais sangrento ataque de que há memória sobre o povo palestiniano na Faixa de Gaza. Trata-se duma das maiores agressões daqueles que, pretendendo ser o que não são, são de facto a ponta de lança da dominação do Imperialismo no Médio Oriente, e garantia de que nessa zona, terminado o domínio colonial de Franceses e Ingleses, o Imperialismo continuaria a explorar as fontes de riqueza que deveriam pertencer aos povos autóctones dessa zona.

A afirmação do estado de Israel constitui uma das grandes mistificações da História, produto duma teoria extraordinária, o Sionismo, inventada no Século XIX, pelo judeu austríaco, Natham Bimbaum, que pretendeu que os judeus tinham direito a ocupar a Palestina, pois essa terra de azeite e mel tinha-lhes sido prometido no início da História por Deus Pai Todo-Poderoso, e isso teria como inevitável consequência o domínio das populações autóctones.

Abraão, pastor da Cidade de Ur, e toda a sua parentela, adorava Jeová que quer dizer um Deus sem nome. Como não tinha mais nada que fazer, conversava com o seu Deus, e este ter-lhe-ia cometido a tarefa ingente de abandonar os seus concidadãos e concidadãs, maioritariamente politeístas, agrupar os parentes próximos e distantes, todos como ele tementes a Deus único, e irem ocupar o território hoje da Palestina. Um problema existia: os ditos territórios já eram ocupados por populações que não estavam muito afins de serem espoliadas. Mas Abraão confiou no seu Deus que lhe deu meios para vencer os autóctones naturalmente politeístas e assim inimigos do Deus verdadeiro.

A Bíblia constitui o repositório do que foi a vida nesses território depois do início do domínio dos Judeus, os descendentes dos conquistadores monoteístas. É uma sucessão de crimes sem nome, mas sempre justificados pelo desejo de agradar a Deus. Este pareceu mais interessado em utilizar a brutalidade dos seus seguidores, do que em promover uma actuação mais de acordo com o respeito dos direitos dos cidadãos.

Mas uma nova força se perfilou no mundo, o Império Romano. Os seus dirigentes não tinham problemas, ou os povos adjacentes engordavam o Império a bem, ou faziam-no a mal. Os dirigentes judaicos resolveram cooperar, à custa da sua arraia-miúda. Os dois reinos que por essa altura adoravam o mesmo Deus, Israel e a Judeia, integraram o Império Romano. Mas os respectivos povos não estavam de acordo, e as revoltas sucediam-se. A brutalidade dos Romanos, politeístas, era um dado brutal. Então Deus achou que a coisa estava a passar das marcas e enviou uma parte de si mesmo, Jesus Cristo, por isso mesmo considerado consubstancial ao Pai, na unidade do Espírito Santo. E então foi explicado que essa coisa do povo eleito, não era assim tão linear, porque não dizia respeito a um povo específico, mas a todos os que cumprissem a Palavra de Deus, mesmo que nele não acreditassem. E que os homens eram todos irmãos, porque todos filhos do Pai. E Cristo dispôs-se como exemplo a deixar-se imolar para se tornar patente toda a brutalidade da classe dominante romana, que não era diferente da brutalidade da classe dirigente judaica, como ficou demonstrado. Em tudo isto, e nunca é demais afirmá-lo, o povo judaico está naturalmente absolvido.

A morte de Jesus Cristo na cruz ultrapassou as expectativas mais delirantes da Santíssima Trindade, e surpreendeu-a de tal modo que Jesus Cristo na cruz teve de suplicar: — Pai, perdoai-lhes que eles não sabem o que fazem! Foi de facto duma brutalidade exemplar. Os Judeus consideraram que as coisas tinham ido longe de mais, e tornaram-se então uma força que levou a sua luta contra os Romanos a níveis nunca pensados. As autoridades do Império trataram então de lhes fazer a vida negra e eles começaram a imigrar, de tal modo que poucos séculos depois já poucos judeus existiam na Palestina. Ficaram os inicialmente autóctones, e porque povos do Deserto, assumiram na sua grande maioria a religião muçulmana, visto que muitos deles tinham já abraçado à muito os ensinamentos de Jesus Cristo em vários sabores locais. Jerusalém, centro ecuménico, tornou-se a cidade de três religiões, todos fieis a Deus Pai Todo-Poderoso, mas com distintas compreensões do Filho, e ainda mais do Espírito Santo.

Os Judeus espalharam-se pelo mundo, mas nunca foram bem aceites pelas teocracias cristãs e muçulmanas, pelo que nunca se integraram devidamente nas sociedades aonde viviam. Para além das perseguições da Santa Inquisição, os judeus do Século XIX estavam fora do jogo da cidadania, devido aos conceitos teocráticos terem sobrevivido à Revolução Francesa. Em vez de lutarem pela integração nas sociedades em que viviam, muitos judeus passaram a suspirar pela Terra Prometida, para nela instalar uma teocracia judaica. Surgiu assim o Sionismo, e os judeus dezassete séculos depois de terem sido reduzidos à sua expressão mais simples na Palestina, começaram a regressar em força à sua “Terra Prometida”, procurado por de lado os que já lá se encontravam.

A Solução Final Nazi e as posteriores necessidades do Imperialismo em dominarem o petróleo da região, levaram à aceitação de que o Sionismo era a coisa mais natural do Mundo, e que os autóctones árabes, cristãos e muçulmanos, tinham que se dobrar aos novos senhores, que chegavam em catadupa da Europa. Mas na verdade o Sionismo é uma enormidade teológica e politica. Teológica, porque não há povos eleitos. Politica porque se baseia na força dos poderosos, e no facto insofismável de que os judeus dominam uma parte considerável da alta finança, e graças a isso conseguem todos apoios para os seus fins, incluindo o serem a elite do poder agressivo do Imperialismo.

Na sua ocupação da Palestina, Israel constitui um estado teocrático, aonde só são cidadãos os judeus e alguns árabes que lhes sejam indispensáveis, e forma a parte de leão, e vão ocupando áreas de território que deverão estar nas mãos dos palestinianos, e criando zonas protegidas por muros ilegítimos, que dificultam a circulação dos mesmos palestinianos. Para a teocracia sionista o Estado da Palestina será sempre um protectorado aonde os sionistas actuam quando quiserem. Neste contexto a questão de Jerusalém é paradigmática: Israel pretende dominar a cidade, que sendo de três religiões, não pode de facto estar nas mãos da teocracia sionista, e por nisso mesmo deve ser gerida por todos os que nela vivem, independentemente da sua religião. Mas isso só será possível, ou declarando a cidade internacional, e gerida pelas Nações Unidas, ou assumindo que a questão da Palestina só pode ser resolvida no actual momento histórico, aceitando a solução do dirigente líbio Muammar al-Gaddafi, federalizando o Estado Palestino com as suas duas componentes árabes e judias.

A brutalidade sionista, parente próxima da brutalidade nazi contra os judeus, tem de ser denunciada, e deverá ser feita desde já a partir deste ataque a Gaza, e ao povo que nela vive. A comunidade internacional, e a sua organização política, as Nações Unidas, não podem continuar a ver massacrar o povo palestiniano e ficar à espera que o problema se resolva por si. É necessário fazer parar as hordas sionistas, mesmo que elas estejam mascaradas da tecnologia repressiva que lhes foi oferecida pelo seus patrões imperialistas, e que eles como participantes no festim da exploração aplicam de forma criadora, dando assim uma nova expressão à barbárie racionalizada característica da dominação capitalista.

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