quarta-feira, 6 de maio de 2009

O Adeus às Armas (V)

Vasco Granja: A Afirmação da Cultura Visual - as 8ª e 9ª Artes

Estamos em 1966, e eu já entrara no Instituto Superior Técnico. Para trás ficara uma vida não muito alegre, mas que tinha sido muito mais interessante porque eu lia muitas “Histórias aos Quadradinhos”. O meu pai não gostava e tinha-mas proibido. Mas no inicio eu tinha um vizinho que mas emprestava. Para que o meu pai não as visse, escondia-as nos fundos dum sofá-cama com a cumplicidade da minha mãe. E foi assim que conheci o Buck Jones, o Wyatt Earp, David Crockett, Kit Carson, Mandrake, Super-Homem, Batman, Fantasma, o Major Alvega, e tantos outros. Mais tarde já no Liceu de Gil Vicente em Lisboa passava pelo jardim da Graça aonde, na biblioteca municipal que lá havia, lia o “Cavaleiro Andante”, o Mundo de Aventuras e tudo o que aparecia.

E foi assim que um dia dou comigo a ler o jornal Republica, e encontro um artigo do Vasco Granja a falar-nos da Banda Desenhada com grande profundidade. Ele falava das Histórias aos Quadradinhos da minha adolescência. E estava certo naquilo que dizia: se o Desenho Animado já era então reconhecido como a 8ª Arte, a Banda desenhada era a 9ª Arte, e era necessário promovê-la. Ele afirmava que elas eram a expressão da nossa modernidade. A isto se opôs o suplemento Diário de Lisboa Juvenil, dirigido pelo nosso camarada Mário Castrim, aonde se defendia que texto e imagem juntas degradavam o texto e afastava os leitores das grandes obras da literatura.

Ora eu que já tinha lido uma séria de umas e outras, não estava de acordo. A discussão azedou. E algures no final de 1966, princípios de 1967, escrevi no Republica a carta aberta Ouça Senhor Mário Castrim, Companheiro-Mor do Juvenil aonde critiquei acidamente os colaboradores do Juvenil. A polémica não durou muito mais tempo.

Vasco Granja foi um dos homens que subrepticiamente fez uma Revolução Cultural, ao afirmar a importância da imagem na formação integral do indivíduo. A sua contribuição para a divulgação do Desenho Animado e da Banda desenhada, como 8ª e 9ª Artes, foi fundamental para que os portugueses tivessem conhecimento destas duas expressões artísticas, e fossem capazes de ajuizar da sua excelente qualidade. Ele é responsável pelo acesso de todos os portugueses através da Televisão à divulgação da pluralidade das suas escolas. Os mais importantes criadores foram divulgados e.g. Norman McLaren, canadiano.

Vasco Granja era um camarada. Deixou-nos com 83 anos. Já sentimos a sua falta. Mas a sua obra perdurará nos nossos corações, e é expressão da pluralidade que vale a pena construir, e que em sua homenagem e de outros como ele, que perduram e perdurarão na nossa memória, necessariamente construiremos.

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