terça-feira, 31 de março de 2009

Reflexões Estratégicas Globais (V)

Grã-Bretanha: o Acordar das Massas

No passado Sábado dia 28 de Março, e em preparação para a reunião do G20 em Londres, os povos britânicos fizeram uma das maiores manifestações de que há memoria na Grã-Bretanha. A marcha sob o lema Put the people first (Ponham as Pessoas Primeiro) reuniu 35 000 pessoas que marcharam uma distância de cerca de 10 km, do Embankment a Hyde Park, um lugar famoso por ser o símbolo mundial do discurso livre, enquadrados por um aparato policial sem precedentes. Foi o culminar de um importante processo de mobilização que levou semanas, aonde se chamou a atenção dos trabalhadores para a importância de ocuparem este espaço de protesto, dada a progressiva degradação das suas condições de vida e emprego. Esta manifestação será repetida na Escócia, em Edimburgo, no próximo dia 1 de Abril. Espera-se que a Milha Real que vai do Forte de Edimburgoao castelo de Holyrood, aonde viveu Maria Stuart, esteja tão pejada de gente, como Londres esteve neste fim de semana.

A manifestação foi convocada por uma vasta coligação de 100 sindicatos, grupos eclesiais e organizações de caridade, que incluíam ActionAid, Save the Children, Friends of the Earth e Oxfam. Esta manifestação, para além do seu título acima, tinha como tema empregos, justiça e clima, e os seus destinatários eram os participantes do G20, que começam esta semana a sua reunião aqui em Londres, e da qual muito se esperava em termos de soluçoes para a resolução da crise. Entre os sindicatos contava-se a poderosa UNITE que é uma federação de organizações sindicais, cobrindo várias profissões. 

A manifestação foi ainda integrada por bandas filarmónicas, tambores, muitas bandeiras de vário tipo muito coloridas. Ao chegarem a Hyde Park, os manifestantes ouviram discursos do comediante Mark Thomas e do activista eclógico Tony Juniper, que tiveram ainda momentos musicais do conjunto The Cooks, o que criou no seu conjunto um ambiente de festa.

Os organizadores esperavam 10 000 participantes, pelo que a manifestação se pode considerar um êxito assinalável. É bom notar que no Reino Unido grandes manifestações só quando as pessoas estão efictiva e profundamente revoltadas, pelo que esta manifestação é um sinal claro que o clima social está finalmente a aquecer.

Há todas as razoes para que assim seja. Devido ao colapso parcial do Capitalismo, o desemprego já atinge na Grã-Bretanha 2 milhões de desempregados, e espera-se que até ao fim do ano atinja 3 milhões. As condições de vida deterioram-se significativamente todos os dias, e a deflação uma realidade que já começou a assentar arrais. Por outro lado o Governo britânico persiste na sua saga de salvar a superstrutura da Economia, e de repor o stato quo ante, esquecendo a miséria das populações aonde já há sectores não insignificantes dos estratos intermédios a viverem da caridade publica e em albergues. Na verdade perderam os seus empregos, a que se seguiu a perda da sua casa, o que os tornou sem-abrigo; e sem endereço que os individualizem e possam declarar, dificilmente arranjarão emprego que lhes permita recuperar as suas vidas. Muitos não têm meios para alimentar os filhos, e isto torna a situação ainda mais dramática. Uma onda de miséria abate-se sem remissão sobre o Mundo Desenvolvido.

Nada se espera da reunião do G20. Aliás esta reunião não deverá ter quaisquer consequências, pois as suas decisões para ser implementadas passam por outros fora, e.g. a União Europeia. Mas independentemente deste facto os participantes estão divididos em 3 (!!!) grupos: um formado pelos países ricos que querem antes de mais a reforma do Sistema para reproduzir o stato quo ante, o que parece ser uma impossibilidade, pois é necessário haver poder de compra e procura de bens para que a produção volte a ser o que era, o que inviabiliza retomar a exploração do trabalho tal como ele se processava; outro formado pelos que querem gerar um plano de obras públicas que permita a curto prazo diminuir o desemprego e a partir daí retomar o stato quo ante; e o terceiro as potencias emergentes, que declaram não ter nada a ver com as malfeitorias dos outros dois e que nos colocou nesta negra situação.

Na preparação desta curiosa reunião as forças capitalistas multinacionais, têm o despudor de dizer aos países emergentes como eles devem gerir a sua casa. É assim que se explica a posição de Lula que na visita de Gordon Brown ao Brasil resolveu chamar os bois pelos nomes, deixando o primeiro-ministro inglês com um sorriso muito amarelo.

O segundo colapso do Sistema que se avizinha será ainda mais dramático do que o primeiro. Os barões do Sistema estão sem soluções. A tentativa anterior à crise de mudar o sistema produtivo usando receitas neo-liberais, aonde o dinheiro era gerado pela economia de casino, levou aos grandes escândalos financeiros de Madoff e companhia e a uma contracção da esfera produtiva em face da esfera financeira. O colapso financeiro levou ao colapso económico parcial, e daqui ao colapso total vai uma distância que se medirá em meses, e deverá eclodir ainda este ano. Só uma acção deliberada dos trabalhadores, levando às suas últimas consequências as afirmações da Marcha de Londres do passado Sábado (A Revolução começa aqui, disseram os trabalhadores) permitirá proceder à construção da nova sociedade que se exige, com os trabalhadores no comando, e com as soluções necessárias à construção do seu bem estar social.

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