quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Cartas Escocesas (IV)

O Santo Salvador do Sistema

O Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, não se está a sair nada mal da sua nova postura. De fiel executante das mais agressivas politicas neo-liberais, como apoiante desse aborto teórico que era o New Labour, ao serviço dos grandes interesses económicos, Gordon Brown continua a sua cruzada em prol da redenção do capitalismo. E quando se deu o colapso do sistema financeiro global, não teve problemas em sair em defesa do Sistema, fazendo propostas para a sua imediata redenção.

O esforço foi tão bem conseguido que deixou de se falar na sua substituição à frente do Governo e do Partido. A Europa nunca tinha visto um sábio tão grande, cujo único mérito foi propor o óbvio, uma intervenção que desarticulasse o grande capital financeiro, e o pusesse na dependência da actividade produtiva. Os outros, julgando que o Sistema depois de colapsar ainda tinha condições para prosseguir na sua actividade especulativa e a sua política de sugar dinheiro a quem não o tinha, não pensaram em intervenções tão profundas.

E como cereja no topo do bolo a semana passada ganhou a eleição parcial na circunscrição de Glenrothes, na Escócia. Segundo contam umas melgas, na noite anterior pensava-se que a eleição estava perdida, devido à péssima imagem adquirida ao longo do tempo pela penalização dos trabalhadores. Mas na votação, 19 946 votaram Labour, 13 209, Partido Nacionalista Escocês, e 1 381 Conservador. Ele apressou-se a afirmar, antes de partir para Bruxelas para a cimeira extraordinária da União Europeia: — O que depreendo desta eleição parcial é que as pessoas estão dispostas a apoiar os governos que as ajudem a atravessar esta crise económica e que lhes ofereçam uma verdadeiro apoio. Desta forma continuamos a considerar o processo político como uma actividade de mercado aonde os candidatos expõem as suas ideias, ou seja, os seus produtos, e depois os eleitores escolhem os que melhor lhes interessa naquele momento. Enquanto for assim, enquanto a democracia representativa não for acompanhada por uma forte e robusta democracia participativa com quem dialogue, não vamos a lado nenhum, e continuaremos a apoiar estes farsantes, que hoje dizem uma coisa, e amanhã outra, conforme o lado de onde melhor sopra o vento.

Encorajado pelos seus êxitos radiosos, o substituto de Tony Blair, responsável pela política financeira deste, que vai obrigar o Tesouro de todos os países a investir 2.8 biliões de libras para repor o stato quo, sem impedir mais 2 milhões de desempregados só no Reino Unido, quando antes estas verbas não existiam para melhorar a vida dos trabalhadores, afirma-se agora como um animal de Esquerda, entendendo com isso a perspectiva duma total e completa reconversão do Capitalismo, com uma nova Ética. E como não poderia deixar de ser, apoia-se na eleição de Barack Obama, que vê como o ungido para levar a cabo tão exaltante tarefa. Descobriu agora que a pobre classe média sofreu tratos de polé com os apoiantes da especulação financeira, e que nos novos tempos deverá participar mais na divisão da mais valia produzida. E vai daí lançou-se numa estonteante missão de sugerir a Barack Obama o que este tem a fazer, sem que ninguém lhe tenha encomendado o sermão.

E a luta de classes onde está ela? Aonde está a missão histórica do proletariado? Evidentemente que essas questões não devem ser equacionadas, pela simples razão que distraem as pessoas dos magnos problemas que uma tão ciclópica tarefa engendra e que urge levar a cabo. Porém ao não colocarem em linha de fundo o carácter explorador do Capitalismo, que quer seja dominado pela produção ou pela especulação, os apóstolos da súbita redenção esquecem-se que o Sistema que amam tem crises cíclicas, e com tanta participação e parceria dos trabalhadores que eles pretendem mobilizar ainda não conseguiram explicar qual a razão porque é necessário que haja uma classe exploradora, que embolse a mais valia, e/ou que a redistribua a seu bel-prazer.

Sem prejuízo de que muitas das actividades que se prefiguram no futuro próximo são absolutamente necessárias e têm de ser levadas a cabo, a questão essencial que urge resolver é como vamos acabar com a exploração global, e pôr fim a 40 séculos de exploração humana, aonde uma minoria se apropria do que a maioria produz. E aonde o fim da actividade é a libertação da Humanidade, e não o beneficio duns quantos.

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