quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Reflexões Estratégicas Globais (III)

Barack Obama, Presidente Eleito: 
Somos e seremos sempre os Estados Unidos da América

O Mundo acordou ontem mais descontraído, respirando de alívio com a notícia de que Barack Obama seria o 44º Presidente dos USA, eleito numa votação histórica no dia anterior, 4 de Novembro. Era o tijolo que faltava no edifício capitalista: depois do afundamento económico, só faltava o afundamento político quase-definitivo dum dos seus mais fortes paradigmas, o neo-liberal. A era Ronald Reagan/ Margaret Thatcher chega assim definitivamente ao fim.

A vitória de Obama constitui uma forte vitória da democracia. O sistema eleitoral americano está desenhado para afastar os eleitores, e só favorecer os que mais directamente se interessam. Procura-se ainda limitar a votação das minorias étnicas, e dos economicamente excluídos. Na verdade não existe um registo eleitoral obrigatório, e quando se recenseiam, os eleitores declaram qual a sua filiação politica, Democrata ou Republicana, pois não há outras escolhas. Por outro lado a maquina eleitoral não é suficientemente bem controlada, podendo como se testou, um votante votar num candidato e sair o voto noutro. Há ainda as tentativa de impedir as pessoas de votar baseando-se em critérios fundiários, e não na natureza humana dos votantes.

Mas nesta eleição o eleitorado tomou a votação nas mãos. Eles estavam fartos de Bush e Cª, e trataram de se registar em números nunca vistos. Por outro lado organizaram o voto por comunidades, que votaram em massa em Obama. Foram os brancos que se olharam ao espelho e ao verem nas suas faces a cor centenária da opressão, resolveram mudar de vida; foram os negros apostados em realizar finalmente o sonho de Martin Luther King, Jr.; foram os hispânicos e asiáticos que estavam fartos de ser filhos dum Deus menor; foram as nações índias, que acharam que já vai sendo tempo de terem os direitos dos vencedores. E como se isto não fosse suficiente, transformaram os seus telefones em elementos de difusão da campanha de Obama: de lista telefónica na mão foram contactando os vizinhos, para os convencer a votar no candidato democrático.

O resultado foi o que se sabe: a vitoria. Foi a alegria esfusiante de brancos, negros, hispânicos, asiáticos e índios. Mas não foram só os americanos a ficar contentes. Como afirmou António Barreto no Público, O mundo inteiro, ou quase, deposita nele enormes esperanças. Ilimitadas, mesmo. É talvez o Presidente americano eleito com maior expectativa favorável no mundo inteiro. Espera-se dele que resolva as questões do Iraque, do Irão, do Afeganistão e do Paquistão. Do terrorismo internacional. Do Próximo Oriente. De grande parte de África. Do comércio internacional. De defesa da Europa e do Atlântico. Das relações difíceis com a Rússia. De proliferação das armas atómicas. De controlo da degradação do ambiente. De regulação das actividades financeiras internacionais. De controlo da especulação capitalista. Do aparente declínio da América. E de problemas internos urgentes: a saúde pública, a pobreza, as relações raciais e a crise da educação. No fim de contas trata-se do fim duma era aonde o princípio conservador de governo limitado deu largas à incompetência, amiguismo, corrupção, hipocrisia e falta de respeito pelo primado da lei, como em Guantanamo. E o começo de outra que estabeleça princípios mais favoráveis aos que trabalham.

O candidato, senador pelo Estado do Illinois, apesar de rico, é uma pessoa simples. No Senado escolhera modestamente o lugar onde se sentara antes o jovem senador Robert Kennedy. Nas paredes do seu pequeno gabinete do sétimo andar, dispôs as suas referências. Abraham Lincoln e John Fitzgerald Kennedy, Martin Luther King, Nelson Mandela e Gandhi, e uma inesperada fotografia de Mouhamed Ali em posição de combate.

Em 2004 afirmara:

Não existe uma América liberal ou uma América conservadora — existem os Estados Unidos da América. Não existe uma América negra e uma América branca e uma América latina e uma América asiática — existem os Estados Unidos da América. Adoramos o mesmo Deus todo-poderoso nos estados vermelhos [Republicanos] e nos estados azuis [Democratas]. (....) Não gostamos que os agentes federais andem a meter o nariz nas nossas vidas nos estados azuis e temos amigos gay nos estados vermelhos. Nós somos um povo...(…)

As vitórias da geração de 60 trouxeram a plena cidadania para as mulheres e as minorias, o reforço das liberdades individuais e a vontade de questionar a autoridade — fizeram da América um lugar melhor. Mas o que foi perdido no processo e tem de ser encontrado são as convicções partilhadas - esse sentimento de confiança mútua e fraternidade que faz de nós todos americanos.

E no discurso de afirmação da vitória, digno de Abraham Lincoln, para além de afirmar que a vitória pertencia aos que nele se empenharam e votaram, afirmou ainda:

Para os que desejam destruir o mundo: derrotá-los-emos. Para os que procuram paz e segurança: apoiá-los-emos. E para os que se perguntavam se o farol luminoso da América ainda é tão brilhante: hoje provámos uma vez mais que a força verdadeira da nossa nação vem, não do poder das armas ou da quantidade da nossa riqueza, mas do poder firme dos nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e uma esperança indestrutível.

Neste momento não queremos deixar de manifestar a nossa satisfação por este resultado, que não sendo o da construção do socialismo, permite-nos encarar com mais descontracção esse passo. Dá-nos satisfação saber que, por exemplo, no seio de milhões de americanos cidadãos exemplares como por exemplo Nichelle Nichols (a Uhura de StarTrek), Denzel Washington e Graham Green (o actor índio Oglala Sioux de Danças com Lobos, o imortal Ave que Esperneia) estão felizes.

Barack Obama tomará posse em 20 de Janeiro do próximo ano. Vamos acompanhar o seu percurso, e ver até onde as esperanças não são defraudadas. Neste sentido Obama, ao lançar a sua governação deverá dar sinais de que os actos mais negros da anterior era capitalista serão eliminados e repostos todos os ganhos civilizacionais dos trabalhadores, que lhes foram roubados, como se a eles não tivessem direito. É o mínimo que dele esperamos.

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