sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Cartas Escocesas (V)

O abismo ainda não conheceu o fundo

A crise que se abateu sobre as instituições financeiras do Capitalismo Global sem paralelo na História, levou a que se mobilizassem meios financeiros cujo valor ultrapassou vários biliões de euros. Dum lado e doutro do Atlântico foi um corrupio, para impedir que para alem das que já se tinham afundado muitas outras instituições seguissem o mesmo caminho.

Porém a razão fundamental da crise era a insolvência da grande maioria dos devedores, a quem se prometeu o Paraíso, e que de repente foram lançados no Inferno. Em particular muitos ficaram em risco de ficar sem casa e outros seguiram-lhes na peugada. Foi então que os destacados líderes do Sistema se puseram de acordo com um plano para animar a economia. Os benefícios atribuídos para salvação dos bancos destinavam-se a garantir que estes continuavam a emprestar dinheiro, e a protelar e a agravar a insolvência dos infelizes. Por outro lado descobriu-se a possibilidade de descer as taxas de juro, para tentar reactivar as praticas anteriores ao estoiro da bolha. E tudo isto foi acompanhado de uma estratégia de descida de impostos para que as pessoas ganhassem de novo a falta de ar que estavam a perder.

E foi isto que sucedeu aqui no Reino Unido. As trombetas tocaram, e soube-se que tudo ia ser muito mais risonho. O IVA baixa de 17.5% para 15% no próximo dia 1 de Dezembro, para que os consumidores consumam à tripa forra, pois os comerciantes iam ter o pior inverno de vendas de que há memória. Isto é uma brincadeira de mau gosto pois a cadeia Marks & Spencer baixou os preços temporariamente em 20& e não teve grandes resultados. Por outro lado anunciou-se um abaixamento dos impostos que fazem com que os cidadãos passem a pagar menos £100‑150 (€125-170) por ano.

Tudo isto foi feito afirmando despudoradamente que tais medidas eram o máximo possível para fazer pelos cidadãos deste país, e que isto ia custar no conjunto qualquer coisa como 21 mil milhões de £ibras esterlinas ao erário público, e que teria de de ser devolvido no futuro próximo de 2 anos. Ora £100 por cidadão e por ano, não dá £10 de benefício por mês; e os tais 100 mil milhões de £ibras estão bastante aquém do apoio dado às instituições financeiras para se salvarem. Claro que para calar as hostes foi criado um novo imposto para os ricos. Mas isso não resolve o problema. Mesmo que tivessem dado aos pacientes cidadãos 10 vezes a verba atribuída, ainda estariam a dar bastante menos. E ter que devolver tanta solidariedade, não, muito obrigado. Todos sabemos o valor da solidariedade capitalista.

Um pouco mais generosa foi a União Europeia. Aí a Comissão propôs estímulos fiscais semelhantes da ordem de 200 milhões de €uros em toda a UE. Mas também aqui fica bastante abaixo das expectativas. Pois o apoio ao grande capital é várias vezes esse montante.

Como isto de economia não vai lá com propaganda, é evidente que mais uma vez se cumpriu aquilo que os danados dos comunistas afirmam: tudo para os donos do mundo e muito pouco para os que trabalham. Mais uma vez foi assim. Os trabalhadores, para além de explorados no seu salário, nos juros dos empréstimos e por aí fora, ainda têm de estar muito felizes e agradecidos por uma suavização da exploração.

De modo que o futuro não prevê nada de bom. Sem estas medidas, afirmava-se, a economia estava à beira duma deflação generalizada. Sem haver uma clara melhoria das condições financeiras dos trabalhadores é o que acontecerá. É preciso repor nos bolsos dos trabalhadores sem direito a retorno, tudo o que foi sonegado durante estes anos ao se aumentarem anualmente os ordenados sem repor o poder de compra. O passado próximo mostrou que não é com medidas cosméticas que se resolvem os problemas. Mas os servidores do Capitalismo continuam estoicamente a recusar aprender a lição.

Nota: os desenhos deste artigo foram retirados do jornal The Guardian (Londres e Manchester).

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