quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

"Fait Divers" Políticos (VI)

Rania Al Abdullah: 
Poderá uma rainha ser de Esquerda?

A questão levantada parece não ter grande substância. Evidentemente que um príncipe pode ser de Esquerda. É o caso do Camarada (Príncipe) Souphanouvong, fundador do Partido Comunista do Laos, e mais tarde primeiro Presidente republicano do País.

A questão levanta-se por causa da actividade social extensíssima de Sua Majestade Rania Al Abdullah, Rainha Consorte da Jordânia, aqui referenciada em Cosmosophia Portucalensis, como a mulher mais bela do Universo. Mais recentemente, Sua Majestade promoveu uma série de vídeos no YouTube para criar e estender o debate sobre o Islão, para que diminuam as ideias feitas contra os cidadãos e cidadãs muçulmanas. Como consequência desse esforço o YouTube atribuiu-lhe o prémio Visionary Award of YouTubeLive 2008. No dia 22 de Novembro na cidade de San Francisco, Califórnia, o respectivo Mayor, Gavin Newson, e a sua mulher Jennifer entregaram à ausente Rainha o prémio, que ela aceitou enviando um vídeo por não poder estar presente. É o vídeo desse acontecimento que aqui apresentamos.

No vídeo em que agradece (ver abaixo), Sua Majestade não deixa de destruir uma série de estereótipos sobre o Islão que ensombram a nossa sociedade. Em particular repare-se na finíssima denúncia de Jack Bauer e as suas actividades fascizantes em 24; e como duma forma não menos fina denuncia a suspeição, intolerância e falta de confiança com que o Ocidente encara o mundo árabe.

Nada disto é novo na Rainha Rania Al Abdulah. Imediatamente a seguir ao 11 de Setembro Sua Majestade esteve presente num programa de Oprah Winfrey aonde desmontou uma série de ideias feitas sobre o Islão chamando a atenção para a ideia de que os fundamentalismos estão nas franjas das doutrinas. Este interessante pensamento leva-nos a suspeitar que Sua Majestade não estava só a dirigir-se à Al-Qaeda, ou aos taliban, mas também aos seus primos sauditas, responsáveis por uma das mais gravosas e sistemáticas violações dos direitos dos cidadãos que acontecem no mundo. Sua Majestade dificilmente poderia mostrar-se ao mundo como o faz, e ser considerada a mulher mais bela do Universo, se fosse saudita.


Nascida em 31 de Agosto de 1970 no Kuwait, a palestiniana Rania Al-Yassin, estudou Gestão na Universidade Americana do Cairo tendo terminado em 1991, e trabalhado a seguir para o Citibank e Apple Computer. Em Janeiro de 1993, num jantar, como num conto de fadas, deu-se o seu encontro histórico com o Príncipe Hachemita Herdeiro da Jordânia, Abdullah Bin-Al Hussein. Nascia assim uma parceria que mudou a sua vida, e a levaria ao seu casamento em 10 de Junho de 1993, passando a usar o nome que hoje ostenta. Rania Al-Yassin, agora Rania Al-Abdullah era afinal uma Gata Borralheira do nosso tempo. Em 22 de Março de 1999, o seu marido, agora Sua Majestade o Rei Hachemita Abdullah II, proclamou-a Rainha Consorte da Jordânia.

Usando amplamente o seu novo protagonismo, esta mulher bela como uma deusa, não se limitou a decorar com a sua beleza celestial os gabinetes, salas de reunião, e outros lugares por onde passa, embora isso também aconteça, e as revistas cor-de-rosa a amem. Na verdade ela tem o corpo de Vénus/Afrodite ressuscitada, com o cérebro de Minerva/Atena, e o sentido político de Juno/Hera. Com o seu enorme sorriso e a cabeça cheia de ideias muito progressistas, passou a plasmar substantivamente a programação de acções contra as causas mais terríveis de degradação e exploração humanas: a necessária emancipação das mulheres em todas as suas dimensões; a necessidade de aumentar a literacia e a formação de cidadãos e cidadãs no mundo árabe, exigindo o fim do trabalho e iliteracia infantis; o respeito pelos direitos da cidadania de homens e mulheres. Muçulmana praticante assumidíssima, procurou difundir uma nova leitura do Islão, denunciando os crimes da dominação da mulher, e o fundamentalismo dos que pretendem que os pobres e infelizes nunca saiam da cepa-torta. Com o seu aspecto ocidentalizado e elegantíssimo, mas profundamente fiel aos valores árabes, procura transmitir a ideia de que ser muçulmano não é incompatível com os valores do resto do mundo. Não admira que seja odiada por todos os que pretendem manter o seu domínio sociopolítico ancestral, próximo dos valores da Idade Média.

Em 2005 esteve na Organização Internacional do Trabalho; em 2008 em Davos, pois esta excelsa cidadã do Mundo está em toda a parte aonde é necessária para ajudar os desprotegidos. Os seus actos são comandados por um espírito de superior serviço público, muito para além do estrito cumprimento do dever, que a leva não só a participar nas decisões, mas também depois a garantir, inspeccionando in loco, que o decidido se cumpre para benefício dos cidadãos. A sua importância encontra-se reconhecida no volume produzido pela revista The Economist de Londres, The World in 2009, aonde Sua Majestade Rania Al-Abdullah assina um artigo sobre a importância da educação para a formação do novo cidadão ou cidadã jordanos em particular, e árabes em geral.

E com tudo isto voltamos à questão inicial: poderá uma Rainha ser de Esquerda? Suspeitamos neste caso que a paixão mútua do casal reinante na Jordânia é para além dum casamento bem sucedido, uma parceria estratégica para benefício dos cidadãos, aonde o Rei dá à Rainha todo o espaço de que ela necessita. Na verdade Suas Majestades podem não ser de Esquerda, mas com o seu empenhamento esforçado até parecem, porque os seus actos ajudam a prazo à libertação dos respectivos povos, numa zona dominada pelo Imperialismo, e por muitos interesses que querem manter os povos na Idade Média ao arrepio da libertação da Humanidade. Que Deus Pai Todo-Poderoso os conserve com saúde por muitos anos e bons, para que possam cumprir os seus magníficos objectivos. 

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