domingo, 15 de março de 2009

Aniversários Marcantes (IV)

Charles Darwin: A Vida está em Permanente Transformação…

O ano de 2009 é um ano rico de efemérides com idades em números redondos. A 12 de Fevereiro comemoraram-se os 200 anos do nascimento de Darwin, um acontecimento da maior importância para o desenvolvimento da Ciência, em particular das Ciências Biológicas.

Charles Darwin nasceu a 12 de Fevereiro de 1809, Depois de alguma mudança nos domínios da sua formação, conseguiu diplomar-se na Universidade de Cambridge em Janeiro de 1831, sendo o 10º em 178 examinados, e em 27 de Dezembro do mesmo ano encontrava-se a bordo do HMS Beagle, para uma histórica viagem de volta ao mundo que durou até 2 de Outubro de 1836, e durante a qual recolheu elementos que lhe permitiram revolucionar todo o enquadramento do conhecimento biológico existente, afirmando que todos os seres vivos estão em transformação permanente.

Em 1838 escreveu o livro A Origem das Espécies, publicada em 1859, baseado nas extensíssimas observações que efectuou durante a sua viagem, comparando diferentes aspectos de espécies em diferentes localizações do mundo, e em particular no arquipélago das ilhas Galápagos. Nele afirmava que os animais e as plantas derivavam todos dum antepassado comum, e que a biologia era uma árvore. Esta afirmação punha em causa a afirmação de que todos os animais e plantas tinham sido criados por Deus, de acordo com uma leitura literal do Génesis, o primeiro livro da Bíblia, e em particular a ideia da árvore de Noé. Em 1871 publicou The Descent of Men, and Selection in Relation to Sexes, e aqui foi categoricamente afirmado que o homem e os macacos derivavam dum antepassado comum, e que hoje se pensa ter sido um animal muito parecido com o Lémure, um primata primitivo existente nas ilhas Madagáscar.

A teoria da Evolução evoluiu ela própria ao longo dos 150 anos desde a publicação de A Origem das Espécies. O ponto de partida resultou da observação que a mesma espécie existia em várias formas, e que isso era consequência de modificações na versão original através de selecção natural. Havia qualquer coisa na estrutura dos animais e plantas que sofria alterações estocásticas, e que depois as modificações sobreviviam ou não conforme a sua adaptação ao meio era mais favorável, ou tornavam a reprodução mais fácil: só havia evolução através do princípio da hereditariedade, a herança misturada (blended Heneritance). Esta teoria foi posta em causa pela descoberta do trabalho de Gregor Mendel nos alvores do Século XX, que propunha que o aspecto da hereditariedade, era discreta e não contínua como propunha Darwin. Porém entre 1918 e 1930 um grupo de cientistas provou que a teoria de Mendel era a teoria da hereditariedade necessária para justificar a Evolução Darwiniana. Subsequentemente a Teoria de Darwin modificada encontrou suporte nos estudos genéticos e permitiu explicar a notória característica de evolução que se observava nos registos fósseis e inclusivamente ser observada no nosso tempo. E mais interessante ainda, permitiu identificar os traços da nossa filogenia, e identificar problemas assentes nela.

A Teoria da Evolução das Espécies de Darwin sofreu desde o seu início grandes ataques, particularmente dos teólogos, que pretendiam que a teoria punha em causa a palavra de Deus revelada através da Bíblia. Mas conforme se avançou nos estudos biológicos mais claro se concluía que sem evolução a Biologia não fazia qualquer sentido como Ciência, e que não era função da Ciência estar de acordo com a Teologia, mas com os factos reais e objectivos. Pelo contrário era a Teologia que tinha de esclarecer as discrepâncias entre a Revelação Divina, e os dados da observação. Na verdade a Ciência é completamente agn óstica e nao tem de se preocupar se Deus existe ou não, pois tal conhecimento não se afirma por via da experiência ou observação. Pelo contrário era a Teologia que tinha de esclarecer as discrepâncias entre a Revelação Divina, e os dados da observação. A questão foi facilmente ultrapassada quando os teólogos concluíram que evidentemente o grau de compreensão da Palavra de Deus, não podia ser a mesma hoje da que podia ser atingida pelos homens primitivos. Daí a necessidade de dar uma nova interpretação da Bíblia e muito particularmente do Génesis, porque a bondade de Deus não permite que este nos revele falsidades evidentes, e que da contemplação da obra de Deus, fiquemos com ideias falsas àcerca da natureza da Sua obra. Um dos aspectos da Bondade Divina, é participarmos activamente nos Seus designios e actividades sem quaisquer ilusões ou ideias feitas.

O pensamento Darwiniano teve importantes consequências filosóficas. A sua versão do universo biológico permitiu substanciar o Materialismo (Dialéctico) de Marx e Engels. Na verdade as mutações que se observavam nos seres vivos e que depois sobreviviam por selecção natural, estava em contradição com o conceito teleológico de evolução natural com o fim de que o homem aparecesse e se afirmasse. Por outro lado mostrava como neste particular a matéria estava em permanente transformação, ou seja a evolução das espécies com a sua origem e extinção era uma manifestação do movimento da Matéria sem qualquer propósito que não fosse o de manter a Matéria em movimento. E esse processo tal como Darwin o tinha proposto estava de acordo com as regras da dialéctica, pois obedecia à Lei da Unidade dos Contrários, e ao princípio da unidade e da contradição no seio da Matéria. O conceito da dialéctica na Natureza saiu reforçada.

A Teoria de Darwin está hoje a sofrer um ataque insano das forças conservadoras, baseando-se numa pseudo-teologia que é uma afronta a Deus Pai Todo-Poderoso. Esses fundamentalistas cristãos nos seus argumentos mostram não saber nem Ciência nem Teologia. Os seus objectivos são a estupidificação do género humano. Daqui que se conclui que é preciso que os cidadãos e cidadãs tenham uma melhor formação filosófica, para não confundirem o que não pode ser confundido, e misturarem diversas formas de conhecimento; uma melhor formação cientifica para não confundirem os dados da experimentação, ou pô-los em causa sem qualquer fundamento objectivo; e uma melhor formação teológica para não confundirem a Revelação com o que está escrito. Se compete à escola formar os cidadãos e cidadãs nos dois primeiras áreas, de modo a eles não basearem as suas convicções em falsos saberes ou na inexistência destes, compete aos padres das varias confissões religiosas esclarecer a questão e elevar os crentes à verdadeira Palavra de Deus, para melhor compreensão do mistério da existência de Deus, da Sua obra e do género humano.

Há 200 anos nasceu um homem que lançou uma semente de sabedoria. Era profundamente religioso, e sofreu muito por ouvir os dislates proferidos por quem deveria ser igualmente sábio. Mas o espírito humano não para, e se deste debate não permite concluir se Deus existe ou não, permite pelo menos meditar em silencio sobre o seguinte pensamento de Darwin, que morreu em 1882, retirado de A Origem das Espécies: “Há grandeur nesta visão da vida, com os seus vários poderes, tendo sido originalmente assoprado pelo Criador em várias formas ou numa só; e que enquanto este planeta tem ido circulando de acordo com as leis fixas da gravitação, de um simples inicio formas sem fim, belas e maravilhosas foram e continuam a evoluir”. Este é também um elogio da Dialéctica.

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